O ser humano e a imbecilidade do racismo

Torcedora do Grêmio (à esquerda) ofende goleiro do Santos o chamando de macaco. A outra torcedora apenas observa
Torcedora do Grêmio (à esquerda) ofende goleiro do Santos o chamando de macaco. A outra torcedora apenas observa

Por Alex de Souza, em O Repórter

O preconceito do racismo é algo intrínseco na cultura das civilizações há bastante tempo. Em termos gerais, diz-se que o tal preconceito se dá pelas diferenças biológicas entre as pessoas. Indo mais a fundo, o ato de classificar indivíduos e separá-los por estereótipos culturais, nacionais, étnicos ou religiosos também são formas latentes de racismo.

Sabe-se, cientificamente, que a raça de uma pessoa não implica em uma inteligência superior ou inferior, tanto que após declarar ao jornal britânico ‘The Sunday Times’ que “todos os testes de inteligência” realizados na África negavam a ideia de igualdade intelectual entre brancos e negros, o biólogo americano James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA e vencedor do Nobel de Medicina em 1962, voltou atrás e se desculpou.

Derrubando ainda mais as teses que sugerem que o quociente de inteligência de uma pessoa tem a ver com a cor de sua pele, em entrevista à edição de dezembro de 2007 da revista “Super Interessante”, o médico-geneticista Sérgio Danilo Pena, da UFMG, foi enfático ao dizer que “não há nenhuma relação entre os genes responsáveis pela pigmentação da pele e os que formam o sistema nervoso central” e concluiu: “no fim das contas, um negro africano pode ser geneticamente mais parecido com um branco norueguês do que com seu vizinho, também negro.”

Mas, o que leva uma pessoa a extravasar o seu lado mais sombrio e segregar? O professor  de economia John List, da Universidade de Chicago, ex-economista sênior do Conselho Econômico do presidente George W. Bush, e especialista em pesquisa econômica aplicada à área de políticas de igualdade, deu pistas em uma entrevista ao blog “Para entender Direito”.

“Há duas razões diferentes. A primeira é a típica do racismo e da intolerância e os economistas a chamam de animus. Ela é gerada pelo desejo de ferir certos tipos de pessoas, mesmo que isso prejudique financeiramente quem está sendo discriminado. O segundo tipo é a discriminação estatística, e não tem nada a ver com preconceito ou racismo, mas apenas estatísticas. Por exemplo, se as mulheres têm menos probabilidade de serem negociadoras persistente do que os homens quando estão comprando um carro usado, o comerciante fará uma oferta inicial mais alta a elas. Não porque o comerciante odeia mulheres, mas porque ele pode ganhar mais dinheiro com base nas estatísticas da situação.”

Mas a proposta da coluna desta semana é entender a primeira razão. A discriminação das minorias e, especificamente os casos que aconteceram recentemente no futebol.

A grande maioria dos torcedores desconhece que desde 2002, existe no futebol o “Dia contra a Discriminação” e que faz parte do código disciplinar da FIFA, que reza: “a discriminação por palavras ou ações por causa da raça, cor da pele, língua, religião, origem ou qualquer outra razão é estritamente proibida e passível de punição”.

Buscando nas leis do país e olhando para os casos recentes, é possível dizer também que a grande maioria dos cidadãos desconhecem que racismo no Brasil é crime e crime hediondo, há mais de 25 anos.

A legislação brasileira determina cadeia a quem tenha cometido atos de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A lei regulamentou ainda o trecho da Constituição Federal que torna inafiançável e imprescritível o crime de racismo, após dizer que todos são iguais sem discriminação de qualquer natureza.

E o assunto poderia se esgotar se tomarmos a Carta da Organização das Nações Unidas assinada em São Francisco no dia 26 de junho de 1945, que reafirma a fé nos direitos humanos, na dignidade e nos valores humanos das pessoas, na qual convoca todos os seus estados-membros a promover o respeito universal e a observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

Voltando no tempo, o intelectual Karl Marx, fundador da doutrina comunista moderna afirmava em seu tempo que “a essência humana é o conjunto das relações sociais”, e, no meu entendimento, essas relações estão totalmente corrompidas pela falta de compromisso com o bem-estar do outro, com a falta de educação, a ignorância ao conjunto das leis e a certeza da impunidade.

A imbecilidade do racismo acaba por me fazer acreditar que existe sim uma raça inferior, aquela que discrimina e que esconde as mazelas do seu interior atacando o que desconhece no outro.

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