Conselho Continental da Nação Guarani se fortalece na coletividade e organização tradicional dos povos indígenas

 povo guaraniMatias Benno, Cimi regional MS

Há quase uma década, vem se desenhando a consolidação do Conselho Continental do Povo Guarani (CCNAGUA) como uma ferramenta concreta de luta e sobrevivência dos diversos grupos Guarani espalhados por esta América gigante. O movimento teve seu embrião ainda em 2006, quando mais de mil indígenas de vários países latino americanos reuniram-se na cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, para lembrar os 250 anos da morte do líder Guarani Sepé Tiaraju. Naquela época a mídia local anunciou que a pequena cidade, pilar do latifúndio gaúcho, tornara-se, durante o encontro indígena, a capital da luta agrária no Brasil.

Na atual conjuntura, de ataques abertos e declarados aos direitos dos povos originários e de intensa onda desenvolvimentista aplicada pelos governos latinos, é inegável que a luta dos povos indígenas se posta no horizonte como o grande entrave para o domínio absoluto do agronegócio, da expansão das fronteiras agrícolas e pecuárias, e da exploração continental de jazidas e recursos naturais, sendo as organizações e lideranças indígenas, alvos centrais da ira e das investidas dos setores que compõe as elites do continente Sul Americano. No Brasil, por exemplo, os povos indígenas vivem um intenso período de desmonte de suas conquistas constitucionais e a tentativa de retaliação brutal de seus territórios tradicionais. Em tempos como este, a articulação continental destes povos se configura como uma necessidade de resistência física e cultural.

Junto a movimentação dos grupos que integram este imenso povo, os Encontros Continentais passaram a deslocar-se pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia, países que constituem a territorialidade Guarani e que passaram a compor o Conselho Continental. Com o tempo, bandeiras como o direito sobre os territórios ancestrais, possuídos, ocupados e/ou reclamados por Povos da Nação Guarani, o livre trânsito dos Povos Guarani transfronteiriços e o direito ao respeito e reconhecimento de suas culturas tornaram-se os grandes pilares do Conselho Continental da Nação Guarani (CCNAGUA).

Nos dias 20, 21 e 22 de agosto de 2014, em Assunção, capital paraguaia, mais de 30 representantes e lideranças dos povos Guarani Kaiowa, Pay tavyterã, Ava, Nhandeva, Mbya, Aché, Chane e Guarani ocidental protagonizaram um encontro de intensas discussões e reflexões a respeito da elaboração de um estatuto basilar para o Conselho Continental, cujo objetivo é ser um espaço de articulação política e de reivindicação de direitos junto aos Estados nacionais. No fim do encontro o CCNAGUA foi mais uma vez reafirmado e celebrado como forte instrumento da luta do povo Guarani.

Referendado dentro da cultura e modo de ser dos Guarani, o corpo executivo do CCNAGUA foi estruturado em 2010, no III Encontro Continental da Nação Guarani, realizado em Assunção – PY, como um grande conselho composto por representantes dos povos Guarani dos quatro países, tendo como sua instancia máxima uma grande assembleia composta pelas bases e pelas lideranças tradicionais do povo Guarani. Desta forma, alicerçado sobre os preceitos da coletividade, o Conselho Continental pretende levar a patamares continentais e instâncias oficiais a força da organização tradicional e originária dos povos indígenas.

Nas palavras da liderança Kaiowa Valdelice Veron “o povo indígena Guarani é um povo que vive e sempre viveu em coletividade. É por conta desta união que os povos Guarani ainda resistem e mantém viva a sua cultura. Com o conselho e a forma tradicional de se organizar, baseando-se em uma política própria dos povos indígenas, a nação Guarani está mostrando ao não indígena que se pode viver e construir o Nande Reko – Modo de ser e de viver dos Guarani”.

Com o avanço do CCNAGUA o Yvy Rupá, grande território Guarani foi novamente traçado no mapa, suas fronteiras se redesenham no coração de cada Guarani, de onde ele nunca foi apagado, e nas sombras do Conselho os passos deste povo gigante passam a trilhar estradas e caminhos comuns. Na defesa de seus direitos e na resistência do cotidiano nenhum Guarani caminha só, junto a cada um mora um continente e todo um povo o acompanha.

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