Boaventura Sousa Santos: Os indígenas estão a ser massacrados

Boaventura Sousa Santos com Telma Silva, do povo Taurepang
Boaventura Sousa Santos com Telma Silva, do povo Taurepang

Boaventura Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais (CES), explicou à Fátima Missionária o quanto a humanidade tem a ganhar com a defesa dos povos indígenas

Por Fátima Missionária

FM – Há quem defenda que Portugal tem uma dívida histórica para com os povos indígenas. O poder político devia ser mais interventivo nestas questões, designadamente junto da União Europeia?

Boaventura Sousa Santos – Devia, mas não o está a fazer porque eu acho que a União Europeia está cada vez mais ao serviço do capitalismo internacional. Basta ver os interesses das multinacionais europeias que estão envolvidas no saque das matérias-primas da América Latina, não são apenas as americanas ou canadianas, são também as espanholas, as portuguesas. Como tal, não espero neste momento, em que as políticas de direita dominam a Europa, que estejam atentos a essa dívida histórica. Mas nós, aqui em Portugal, temos essa responsabilidade. Estamos no centro onde muito do pensamento colonial foi desenvolvido e agora queremos desenvolver aqui um pensamento descolonizador.

FM – O que falta à sociedade para dar mais atenção aos povos indígenas?

BSS – A sociedade sempre se alimentou no seu consumo e no seu modo de vida do saque dos povos indígenas. É preciso alterar os nossos padrões de consumo, os modos de vida, e por outro lado, nunca transformar os povos indígenas em ecologistas. Temos que encontrar uma forma de usar a natureza, sem abusar. Os povos indígenas sempre souberam usar sem abusar e é isso que temos que aprender deles. Não é por acaso que 75 por cento da biodiversidade do mundo está em território indígena. Portanto, se a biodiversidade é importante para o mundo, temos que defender as lutas indígenas, pelo bem da humanidade.

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