Sonia Roseno, a primeira doutora do MST de Minas Gerais

sonia roseno

Por Joana Tavares, da Página do MST

A mesa tinha flores, frutas, bandeiras. O hino nacional foi tocado na viola. A sala estava cheia, e não só de estudantes. Assim começou a defesa de tese de doutorado de Sonia Roseno na Faculdade de Educação da UFMG. Soninha, como é conhecida, é a primeira Sem Terra do MST a ter o título de doutora em Minas Gerais. Em todo o Brasil, são mais de 500 mestres e doutores do MST.

Ela pesquisou a formação de militantes que passaram pelo curso de Licenciatura em Educação do Campo, na UFMG, e em Geografia, na Unesp. Sonia aponta que a trajetória de educação está presente no MST desde sua constituição como movimento social, em 1984.

“A luta pela escola se dá dentro do acampamento, quando começa a luta pela terra. E o movimento vai dando continuidade a essa luta em outros espaços, que é o que a gente chama de sair pra fora. Aí se incluem as universidades. Hoje temos parceria com 60 universidades do Brasil, que buscam dar essa ampliação na formação dos educadores que vão trabalhar nas escolas”, conta.

Ela percebe que, ao lado do avanço na formação de muitos camponeses, ainda há muitos desafios. O principal deles, segunda a pedagoga, é impedir o fechamento de escolas no campo. “E a universidade poderia nos ajudar a fazer esse diálogo, essa luta”, defende.

Superação e reflexão

Filha de trabalhadores rurais, Sonia nasceu em Alpercata, no Vale do Rio Doce. Entrou para o Movimento em 1997 e se formou pedagoga em uma parceria da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, em 2001. Em 2010, se formou mestre em Educação pela UFMG. E, agora, é doutora. “Para mim esse momento é histórico, porque não é individual, é conquista do MST e da classe trabalhadora”, diz.

Esse é o sentimento de outros companheiros de Soninha, como Osvaldo Samuel Santos, da direção estadual do MST e egresso da primeira turma de licenciatura em Educação do Campo da UFMG: “O MST ocupou e resistiu aqui na UFMG. Esse doutorado representa a continuidade da relação do Movimento com a universidade, com o empenho da militância, que se desafia para buscar e concluir a formação”.

Na mesma manhã, outro militante do MST defendeu seu mestrado na mesma faculdade. Antoniel Assis de Oliveira pesquisou duas áreas de assentamento no estado, buscando analisar como a formação e o trabalho qualificam a resistência dos sujeitos no campo.

“A dissertação refletiu sobre a importância dos processos de formação do MST para a conscientização das pessoas, na perspectiva de coletivizar as relações sociais e de trabalho/produção, para alterar as condições materiais da vida, humanizando-as, bem como de visualizar a necessidade de implementação de um projeto de campo sob os interesses dos camponeses e camponesas”, afirma Antoniel. Sua orientadora, Fátima Almeida Martins, que é coordenadora do curso de licenciatura e também de especialização em educação do campo, destaca que a reflexão sobre o MST é importante não só para a academia, mas para que o próprio Movimento entenda suas contradições.

“A universidade está, assim, trabalhando na perspectiva de, no diálogo, conhecer um outro conhecimento, transformador, que pode levar a outro projeto de sociedade. Me sinto muito orgulhosa de estar nesse momento de formação desses sujeitos”, diz.

Três turmas de licenciatura já passaram pela FAE. Na primeira – objeto de estudo de Soninha – se formaram 54 trabalhadores rurais. Na segunda, 63. Na terceira, já como curso regular, se formaram 11.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Lara Schneider.

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