Golaço de Werá!

Wera Jeguaka Mirim, índio guarani de 13 anos: "Eu queria contar a nossa luta para o mundo" (Foto: Luiz Pires/Comissão Guarani Yvyrupa)
Wera Jeguaka Mirim, índio guarani de 13 anos: “Eu queria contar a nossa luta para o mundo” (Foto: Luiz Pires/Comissão Guarani Yvyrupa)

Por Tereza Amaral e Flávio Bittencourt, em ALF

Diante de olhares curiosos da Comissão de Arbitragem do jogo Brasil 3 X Croácia 1, na última quinta-feira, e possivelmente furiosos da presidente Dilma Rousseff e Joseph S. Blatter, presidente da FIFA, Werá Jeguaka Mirim-guarani fez o maior drible do Mundial: Abriu a faixa para o mundo clamando pela demarcação da aldeia krukutu, em São Paulo.

O garoto de apenas 13 anos, filho do escritor Olivio Jekupe e Maria Kerexu, também é escritor de literatura nativa e tem o rosto bastante conhecido pelo trabalho realizado em defesa da causa Guarani-Kaiowá.

Mas foi no jogo de abertura da Copa, realizado na Arena Corinthians, que ele entrou para a História, mesmo tendo sido `ignorado` naquele momento pela imprensa capitalista. Leiam entrevista exclusiva, via e-mail, concedida ao blog Amazônia Legal:

ALF: Diante de milhões de pessoas do mundo e da presidente Dilma Rousseff, como o seu coração bateu ao entrar na Arena?

Werá: Foi muito emocionante, fiquei feliz ao ver tanta gente me olhando e fiquei feliz em ver os jogadores também, mas ao mesmo tempo estava preocupado porque logo eu tinha uma missão a cumprir que era mostrar uma facha que ninguém sabia.

ALF: Quem sabia da faixa além de você, é claro?

Werá: Além de mim, quem sabia era o Fabio Costa, liderança aqui da aldeia, o Tupã de Oliveira e a Jerá guarani, Comissão Guarani Yvyrupa, e ninguém mais sabia, pois sei que foi um susto pra Dilma principalmente.

ALF-A iniciativa de associar a pomba da paz ao apelo pela demarcação foi uma ideia do seu pai?

Werrá: Quanto ao soltar a pomba não foi ideia da aldeia, pois foi ideia da FIFA mesmo, mas achei bonito pois a paz é para todos.

ALF:Em algum momento em que estava com a faixa escondida sentiu medo?

Werá: Sim, eu senti muito medo porque havia muitos fiscais nos observando e também fiquei com medo da reação do povo me olhando. Mas depois algumas pessoas me xingaram porque eu coloquei a facha, mas eu nem liguei, eu cumpri a missão.

ALF: Você tinha consciência, naquele momento, que se conseguisse seria o maior driblador do Mundial em Direitos Humanos?

Werá: Eu nem imaginava que ia ser tão falado, mas fiquei feliz ao ver tudo isso, muitos falando sobre a demarcação. Isso me deixou feliz porque nós aqui das aldeias de São Paulo estão lutando a anos pela ampliação e demarcação das terras. E mesmo eu sendo tão novo eu fico feliz de saber que agi como um adulto.

ALF: Nos fale sobre onde escondeu a faixa e como driblou o nervosismo em como um guerreiro contrariar o cerimonial da Fifa

Werá: Eu escondi dentro da cueca e ninguém percebeu e naquele momento que eu entrava no campo fiquei com medo de algum fiscal perceber e viesse me tirar dali….Mas fiquei feliz por ver que eles não perceberam.

ALF: Nem mesmo seus dois acompanhantes desconfiaram?

Werá: Os meus amigos da aldeia que me acompanhavam eles sabiam.

ALF: Ao abrir a faixa os jornalistas viram. Qual a reação deles?

Werá: Quando abri a facha vi que o povo no estádio ficaram olhando mas não entenderam o que eu estava fazendo, talvez muitos não viam direito o que estava escrito, mas através do Facebook onde a foto surgiu, ai muitos viram o que eu tinha feito e ai começaram a compartilhar e muitos outros faziam o mesmo, e ai vi que a noticia rodou pelos cantos do mundo… Agora muitos jornalistas estão me procurando e irei atender todos que vierem na aldeia, pois sei que o que eu escrevi é muito importante e tenho que falar ao mundo que nós estamos sofrendo muito nas mãos dos políticos que lutam contra nosso povo e não nos defendem, e eu sou garoto e quero um futuro melhor para mim e para todos os indígenas.

ALF: E o sentimento de ali representar a ânsia de 305 etnias?

Werá: Bom, eu não pensava em coisa grande, apenas falar pela demarcação de nossas aldeias da capital de são Paulo, mas fico feliz que pude mostrar ao mundo que a demarcação é para todas as aldeias e espero que nossos parentes guarani e de outras etnias tenha gostado do que eu fiz, mesmo eu sendo tão novo, só 13 anos. Aliás, sou novo, mas ando com meu pai, Olivio Jekupe, ele é escritor e sempre que ele vai dar palestra me leva junto, e desde os 9 anos eu ando com ele, por isso aprendo muitas coisas da cidade, e também aprendi a escrever e hoje sou escritor também, e espero que um dia eu possa escrever um livro sobre a experiência que tive na copa de 2014.

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