Refletindo sobre a abertura da Copa do Mundo no Brasil, por Jorge Eremites de Oliveira*

Por Jorge Eremites de Oliveira*

A abertura da Copa do Mundo no Itaquerão não agradou a muitas pessoas, mas mostrou muito bem o que tem sido criticado no Brasil e mundo afora: um misto de incompetência, mal gosto, malversação de recursos e despesas exorbitantes por parte da FIFA e dos organizadores locais do evento. Com tantos carnavalescos e outros talentos brilhantes no país e foram chamar no exterior alguém para organizar o espetáculo da abertura, inclusive com uma espécie de versão cover do Trio Los Angeles? Uma escola de samba de São Paulo ou do Rio de Janeiro faria muito melhor e mais bonito neste aspecto, sem precisar de dublagem ou outro artifício do tipo.

Para complicar ainda mais, a arbitragem favoreceu a Seleção Brasileira com erros grotescos. Definitivamente isso não era necessário porque temos uma boa equipe, somos favoritos ao título e jogamos em casa com apoio da torcida. Foi dessa forma que o Flamengo ganhou o último campeonato fluminense e ainda teve torcedor dizendo que “roubado é mais gostoso”. Foi então que me lembrei da Copa de 1978, quando as seleções da Holanda e do Brasil foram prejudicadas e com isso a Seleção Argentina sagrou-se campeã para delírio de grande parte da população e da ditadura militar daquele país.

Por outro lado, é bonito ver tantos brasileiros/as de verde e amarelo torcendo pela seleção e ainda tendo uma postura crítica em relação a tudo de errado que aí está. Prova disso é a bronca coletiva que a própria Dilma tomou de torcedores presentes no Itaquerão. Se fossem falar alguma coisa na abertura da Copa, certamente que ela e o presidente da FIFA, Joseph Blatter, seriam sonoramente vaiados. Foi-se o tempo que o futebol era o ópio do povo brasileiro.

Por último, mas não menos importante, óbvio, as manifestações populares registradas em muitas cidades mostram outro espetáculo brasileiro para o mundo, o da Copa da Resistência. Mostraram ainda que a polícia militar precisa ser urgentemente desmilitarizada e humanizada. A ditadura militar acabou em 1985, e seu atestado de óbito saiu em 1988, com a promulgação da Constituição Cidadã, mas certo modus operandi autoritário ainda persiste nas ações do Estado Brasileiro. Precisamos refundar o país.

E assim seguimos na Copa do Mundo de Futebol no Brasil.

*Professor de Antropologia Social e Arqueologia na Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul.

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