Movimentos marcam protestos para 50 cidades no Brasil e no exterior

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Chamados de “Manifestações das Manifestações”, atos podem marcar retomada da grande mobilização anti-Copa nas ruas, a menos de um mês do início do Mundial. Polícia se diz preparada para lidar com eventuais tumultos

DW – A menos de um mês do pontapé inicial da Copa do Mundo, movimentos sociais convocaram para esta quinta-feira (15/05) manifestações contra o Mundial em mais de 50 cidades do Brasil e do exterior. Além das marchas, os movimentos pretendem desde cedo fechar importantes vias e acessos das cidades, no que pode ser a retomada dos grandes protestos desde o fim da Copa das Confederações, no ano passado.

Os protestos foram batizados de “Manifestação das Manifestações”, em alusão ao bordão “Copa das Copas” utilizado pela presidente Dilma Rousseff. Eles foram convocados pelos Comitês Populares da Copa espalhados pelo país e a expectativa é de que tenham a adesão também de dezenas de grupos, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e movimentos estudantis.

Entre as principais reivindicações estão a liberdade de manifestação e exigência do arquivamento de todos os projetos antimanifestação que estão no Congresso; contra a violência policial; as mortes de operários na construção dos estádios; à favor de moradia digna para todas as 250 mil famílias removidas por conta das obras para o megaevento; e investimentos em habitação, segurança, saúde e educação.

Bloqueio de vias nas cidades

Em São Paulo e em outras cidades, os manifestantes vão começar as ações desde cedo, com o fechamento de algumas vias importantes, o que deverá causar grandes congestionamentos. No final da tarde, o movimento vai se concentrar às 17h (no horário local) na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, e seguir até o Estádio do Pacaembu. No Rio de Janeiro, o ponto de encontro será na Central do Brasil, às 16h.

“Em São Paulo, nós esperamos para o ato da noite a participação de pelo menos 10 mil pessoas”, diz Juliana Machado, membro do Comitê Popular da Copa de São Paulo. “Não podemos prever se haverá grupos presentes que vão usar a tática da violência. A princípio, o protesto é pacífico. Mesmo assim, há preocupação com confrontos com a polícia, já que a violência tem começado por parte deles.”

Os movimentos brasileiros se articularam também com organizações internacionais – como o Occupy Wall Street, entre outras – e prometem protestos de apoio também em cidades estrangeiras como Berlim (Alemanha), Paris (França), Barcelona (Espanha), Londres (Inglaterra), Santiago (Chile) e Buenos Aires (Argentina).

Organizações não governamentais ouvidas pela DW se preocupam com possíveis confrontos entre manifestantes e forças policiais nos protestos agendados para os próximos meses. Segundo elas, a polícia se mostrou despreparada para lidar com grandes multidões e usaram gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha contra manifestantes e profissionais de imprensa de forma desproporcional.

“O ministro da Justiça e agentes de segurança pública dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo anunciaram, em novembro do ano passado, que trabalhariam em conjunto para prevenir e punir atos de violência cometidos por manifestantes e policiais”, diz Maria Laura Canineu, diretora da ONG Human Rights Watch (HRW) no Brasil. “Aguardamos até o momento propostas mais concretas nesse sentido.”

Segurança em questão

A assessora de direitos humanos da Anistia Internacional no Brasil, Renata Neder, pede que os protestos sejam pacíficos. Mas, caso exista algum tipo de violência por parte de alguns manifestantes, ela espera que a ação da polícia seja de total acordo com a lei e que não resulte na restrição dos direitos dos demais de protestarem de forma pacífica.

Para a especialista, os protestos que ocorreram no ano passado e no início deste ano mostraram que as polícias militares usaram a força para conter as manifestações de forma excessiva e desnecessária e usaram de forma inadequada armas não letais, como gás lacrimogêneo e balas de borracha, resultando em muitos manifestantes com lesões e restringindo o direito à manifestação pacífica.

“De um lado, manifestantes pacíficos estão sendo vítimas de abusos por parte da polícia. Por outro, os atos violentos de algumas pessoas não estão sendo evitados e responsabilizados”, diz Neder. “Esperamos que os treinamentos tenham sido feitos para que o policiamento dos protestos seja realizado sem restrição aos direitos de liberdade de expressão e manifestação pacífica.”

A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que tem um batalhão que conta com cerca de 600 homens treinados para evitar tumultos e que pode solicitar reforço caso seja necessário. A de São Paulo, por sua vez, afirmou por meio de nota que se preparou especialmente para atuar nos protestos, mas que o esquema de policiamento, por questões estratégicas, não pode ser comentado.

De alguma forma, os protestos já recomeçaram. Na madrugada de segunda-feira (12/05), a Embaixada do Brasil em Berlim foi apedrejada por pelo menos quatro pessoas, num ato reivindicado por um grupo radical de esquerda anti-Copa. Na quarta-feira (14/05), hackers invadiram o site oficial do comitê paulista de organização da Copa do Mundo e publicaram um cartaz com a inscrição “Se não tiver direitos, não vai ter Copa”.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Vanessa Rodrigues.

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