ES – MPA: investimento da Aracruz Celulose em ‘agricultura familiar’ é ilusão

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Plantios de eucalipto, responsáveis por inúmeros impactos, são divulgados pelo governo como opção de reflorestamento e preservação

Any Cometti, Século Diário

O governo do Estado divulgou que a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e a Aracruz Celulose (Fibria) firmaram um convênio para contribuir com o fortalecimento da agricultura familiar capixaba. O projeto consiste na ampliação do plantio do eucalipto e na produção da madeira em solo capixaba, contribuindo para o desenvolvimento de programas como o Reflorestar, Campo Sustentável e Florestas Piloto. Para isso, a fábrica de celulose disponibilizará 4,4 milhões de mudas e insumos variados para os agricultores que estiverem interessados em “recuperar e preservar os recursos naturais, em especial a água”.

Na verdade, a propaganda esconde um modelo de desenvolvimento exatamente contrário à preservação ambiental e à promoção da agricultura camponesa familiar, como defende o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). A política do governo estadual para a agricultura familiar têm sido, de fato, esta que empurra a responsabilidade para com o pequeno produtor às grandes empresas, em um acordo que tem como principal objetivo manter o sistema econômico que tem foco na agricultura de exportação, desenvolvida com largo uso de agrotóxicos, grandes propriedades de monocultivos e produção altamente mecanizada, com baixa empregabilidade de trabalhadores rurais, como afirma a entidade. O que vai justamente na contramão da preservação ambiental e da geração de empregos que promete.

No Espírito Santo, os plantios intensivos de eucalipto nos territórios ao norte também são responsáveis por excluir e isolar populações quilombolas e indígenas, atingi-los com venenos agrícolas, além de usurpar terras que seriam, por direito, dos povos tradicionais.
Como lembra a coordenação regional do MPA no Estado, essa estratégia do governo é mais uma armadilha que ameaça a agricultura familiar, focada na pequena propriedade, na produção variada de alimentos sem uso de agrotóxicos e aliada à preservação ambiental. O monocultivo e o uso excessivo de químicos agrícolas, como insumos e agrotóxicos, contribuem para a exaustão da terra, escassez da água e extermínio de espécies animais e vegetais.
Como esse tipo de cultivo enfraquece o solo, as lavouras do agronegócio também têm importante participação nos processos de estiagem e cheias desastrosas que acometem as grandes cidades, mas que têm origem no campo. Problemas como esse, como sugere o MPA, poderiam ser solucionados caso as grandes extensões de terras do agronegócio fossem divididas em pequenas propriedades destinadas a agricultores familiares, que realizariam plantios diversificados, sem uso de agrotóxicos e atuando em consonância com o meio ambiente – uma forma de atuar que fortaleceria a terra e os recursos naturais.
Como apontam os coordenadores do MPA no Estado, há uma crise ambiental e alimentar que aflige todo o mundo. Produz-se muita comida, mas que nem sempre é saudável, que por vezes é produzida em grandes latifúndios, com uso de muitos defensivos agrícolas, e nem sempre é destinada a alimentar a população. Para eles, as causas dessa crise são, justamente, o foco desenvolvimentista no trato com a terra, a exploração desenfreada do solo que é promovida pelo agronegócio. Ironicamente, como dizem, este é justamente o viés escolhido pelo governo para os investimentos no campo.

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