Ato contra Bolsonaro causa confusão e encerra sessão sobre ditadura na Câmara

Sergio Lima/Folhaexpress
Sergio Lima/Folhaexpress

Mariana Haubert, Folha S. Paulo

Um protesto feito por deputados e alguns convidados no plenário da Câmara acabou em tumulto entre os que chamam o período de revolução, liderados pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) Bolsonaro, e os que combatem a ditadura na manhã desta terça-feira (1º).

A sessão solene, realizada para lembrar os 50 anos do golpe da ditadura militar (1964-1985), foi suspensa após a confusão.

O tumulto começou quando Bolsonaro, principal defensor dos militares, subiu à tribuna para discursar, e os militantes e deputados presentes ficaram de costas para ele.

O deputado Amir Lando (PMDB-RO), que presidia a sessão no momento, chegou a suspendê-la para que os presentes encerrassem a manifestação. Após cerca de dez minutos, ele reabriu a sessão. Mas os manifestantes continuaram de costas. Por isso, o deputado encerrou a solenidade. Além de Bolsonaro, outros seis deputados que estavam inscritos não puderam discursar.

De acordo com o secretário-geral da Mesa, Mozart Viana, o regimento da Câmara afirma que não pode haver desrespeito ao orador. “Ficar de costas é o pior desrespeito. Eles ficaram de costas não só para o Bolsonaro, mas também para a Mesa. Por isso, eu dei a orientação para o presidente encerrar a sessão”, disse.

A sessão chegou a ser interrompida em outro momento quando Bolsonaro abriu uma faixa na galeria do plenário com os dizeres: “Parabéns militares 31/ março / 64. Graças a vocês o Brasil não é Cuba”. Manifestantes então vaiaram o deputado. Neste momento, Ivone Luzardo, ligada à Associação das Mulheres de Militares teve o cartaz que erguia arrancado das suas mãos pela assessora de um deputado. As duas mulheres se agrediram e foram separadas pelo deputado Domingos Dutra (SDD-MA).

Os manifestantes contrários à ditadura levaram cartazes com os dizeres “a voz que louva a ditadura calou a voz da cidadania” e fotos de perseguidos políticos. Durante a solenidade, eles entoaram o Hino Nacional e alguns gritos de guerra.

A sessão foi aberta pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que defendeu que a memória e a verdade sobre a ditadura sejam reveladas. Ele assinou um ato da Mesa Diretora instituindo 2014 como o “ano da democracia, da memória e do direito à verdade” na Câmara. Em seguida, Alves deixou a Câmara para participar da cerimônia de posse do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.

Idealizadora da solenidade, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), foi a primeira a discursar. “Pouco adiantarão atos de repúdio ao golpe militar de 1964, se não vierem acompanhados de ações concretas no sentido de fazer justiça às vítimas da ditadura”, disse. Outros quatro deputados também discursaram.

CONFUSÕES

Polarizada entre os que chamam o período de revolução, liderados por Bolsonaro, e os que combatem a ditadura, a sessão teve tumultos e bate-bocas antes mesmo de começar.

Em entrevista a jornalistas no Salão Verde da Casa, Bolsonaro agrediu verbalmente uma repórter ao ser questionado se não houve golpe militar no país. Após chamá-la de idiota, ignorante e afirmar que ela deveria aprender a fazer jornalismo, ele disse que a repórter estava “censurada”.

Pessoas externas à Câmara só puderam entrar no plenário após receberem uma senha que foi distribuída aos partidos. De acordo com Alves, a medida foi tomada por segurança pois havia o temor de embates entre manifestantes pró e contra a ditadura. Após um apelo de alguns congressistas, o acesso ao plenário foi liberado. No entanto, as galerias continuaram fechadas.

[Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos].

Veja em vídeo:

Na sessão solene, Jair Bolsonaro (PP-RJ) é impedido de discursar a favor da ditadura militar (vídeo)

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