Outras Alynes: Grávida morre após ter alta de hospital em Ribeirão Preto

Giovanna
Giovanna foi definida pela família mãe, esposa e filha carinhosa. Foto: Arquivo pessoal / Divulgação

Por Emanuelle Goes, em População Negra e Saúde

“A última coisa que ela me disse foi: socorro, mãe”, conta Luzia Pereira Martinelli, mãe de Giovanna Gabriela Martinelli, 28 anos. A telefonista, grávida de oito meses morreu na sexta-feira da semana passada, depois de ter dado entrada com pressão alta na maternidade Sinhá Junqueira, em Ribeirão Preto, e posteriormente liberada pelo médico de plantão. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio culposo e instaurou inquérito, na quarta-feira, para ouvir os envolvidos.

Luzia conta que a filha estava em tratamento para controlar a pressão alta que surgiu durante a segunda gravidez e que seguia à risca o pré-natal. “No dia em que aconteceu eu estava no mercado e senti que precisava ligar para saber se ela estava bem. Quando liguei minha neta disse que ela estava passando mal”, conta a mãe, angustiada por relembrar a agonia da filha.

Mesmo diante da recusa de Giovanna, Luzia foi até a casa da filha e viu que ela precisava ser levada para o hospital. Uma ambulância foi chamada. A pressão de Giovanna estava 17 por 10 e ela sentia dores na região da barriga. A pressão é considerada normal quando fica entre 12 por 8 e 13 por 9.

“Cruzamos com um médico no corredor quando chegamos. Pedi para ele atender minha filha que não estava bem e achei que ela estivesse tendo o bebê. Ele me disse que o plantão dele tinha terminado e que havia muitos médicos ali dentro que poderiam atender a Giovanna”, relembra.

Piora

Com a ajuda de uma enfermeira, a mãe levou a filha para a sala de urgência e foi preciso aguardar cerca de 30 minutos até que o mesmo médico que elas haviam encontrado no corredor voltasse. “O hospital deve tê-lo chamado de volta, porque só devia ter ele para atender a minha filha. Ele ouviu o coração do bebê e dela, prescreveu diazepan e buscopan, disse que a pressão dela ia abaixar e que, depois da medicação, ela podia voltar para casa”, contou a mãe.

Depois da medicação, Giovanna foi colocada em uma cadeira de rodas e teve alta, na recepção da maternidade. No entanto, tanto Luzia como o marido de Giovanna, Leonardo Villela de Araújo, perceberam que ela havia piorado.Eles voltaram com ela para dentro do hospital.

“Implorei para ‘biparem’ o médico que acompanhava a gestação dela, mas esse médico que a atendeu disse que tinha 27 anos de experiência e sabia o que estava fazendo”, afirma a mãe.

Giovanna morreu no final da noite. Uma cesariana foi feita às pressas, mas o bebê também não resistiu.

“Não quero que outras mães passem pelo que estou passando”, afirma Luzia.

A advogada da família, Karina Ferreira Borges diz que, no momento, aguarda o laudo do IML, assim como o andamento do inquérito para tomar as devidas providências contra o hospital.

Família tenta seguir em frente

Casados há sete anos, mas juntos há 14, o marido de Giovanna, Leonardo Villela de Araujo diz que ainda nem conseguiu voltar para casa e que não sabe como seguir em frente.

Luzia Pereira Martinelli diz que a filha era mãe, esposa e filha carinhosa. Vivia para a primeira filha, de 6 anos, e também era muito apegada à irmã, Sophia Martinelli Barizon.

“Minha neta faz umas perguntas difíceis de responder. Ela é muito esperta, estamos tentando nos controlar na frente dela. Quero que Deus me dê forças para criar minha neta e torná-la mulher, assim como tornei a mãe dela”, desabafa Luzia.

Para especialistas, médico deveria estar preparado

Especialistas ouvidos pelo A Cidade – que não quiseram se identificar – disseram que o edema pulmonar agudo é uma das complicações da hipertensão arterial. Também informaram que o médico da urgência deve estar preparado para fazer esse diagnóstico identificando outras intercorrências relacionadas no quadro do paciente.

Em casos de grávidas de oito meses, que chegam com pressão arterial alta, as mães são submetidas a cesáreas, para garantir a melhor chance de mãe e bebê sobreviverem. Além disso, as grávidas devem ser mantidas no hospital até que a pressão arterial tenha sido normalizada.

Hospital abre sindicância

Em nota, o setor de comunicação do hospital Sinhá Junqueira diz que abriu sindicância para apurar os fatos e que o caso seguirá para a Comissão de Ética Médica. O resultado da apuração será encaminhado ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

A Unimed de Ribeirão Preto, convênio pelo qual o médico que atendeu Giovanna atende, diz que o médico é ginecologista e obstetra com título de especialista na área e que é plenamente capacitado para o atendimento.

O convênio também diz que verificará o atendimento prestado para fins de esclarecer o ocorrido e que aguardava informações adicionais para se posicionar.

Fonte: A cidade

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