Longa-metragem gravado em acampamento tem estreia nacional

Foto: Talles Reis
Foto: Talles Reis

Por Talles Reis, da Página do MST

O Troféu Candango, premiação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, é um dos mais cobiçados por atores, atrizes e profissionais de cinema de todo o Brasil.

Muitos Candangos foram distribuídos nas quarenta e seis edições deste festival, um dos principais do país. Porém, nenhum ocupa uma casa tão simples e modesta como o que está com Elayne de Moura, no bairro Parque Capibaribe, na periferia de São Lourenço da Mata, região metropolitana de Recife.

Elayne ganhou o Candango de Melhor Atriz Coadjuvante no 45º Festival de Brasília, ocorrido em 2012, por sua atuação no longa-metragem “Eles Voltam”, do diretor Marcelo Lordello, que somente agora chega aos cinemas brasileiros (Confira o trailer do filme no final da matéria).

O filme “Eles Voltam” retrata a jornada realizada por Cris, uma adolescente da classe média-alta que, após uma briga com seu irmão, são abandonados pelos pais na beira de uma estrada. O irmão sai em busca de ajuda e não volta.

Assim, Cris se vê totalmente sozinha na estrada até o amanhecer, quando um menino lhe oferece ajuda e abrigo na sua casa, que fica em um acampamento de famílias sem-terra do MST. Este curto período de convivência no acampamento irá marcar profundamente a protagonista.

Elayne de Moura na época morava no Acampamento Chico Mendes e, juntamente com outros acampados e acampadas, participaram das gravações do filme. Elayne lembra que o diretor Lordello “chegou lá procurando uma pessoa que tivesse mais habilidade, que não tivesse tanta vergonha de fazer um filme, chegou lá perguntando, e D. Gercina me informou. Ele perguntou pra minha mãe se eu podia fazer e pediu autorização”.

Marcelo Lordello conta que via como essencial a participação das crianças do assentamento, “tanto que acabamos convidando Elayne, uma autêntica ‘sem-terrinha’ (como tantas outras crianças ali) pra participar do filme e contribuir com nosso retrato daquela realidade”, comenta.

O diretor ainda destaca a receptividade e carinho com que foi recebido pelas famílias. Durante o processo, também foi compreendendo a dinâmica e como se dava a organização interna do assentamento.

Ele relembra que “a história de luta do Chico Mendes também me impressionou bastante. Vários ali me contaram a quantidade de vezes que foram expulsos dali e a agressividade das ações de despejo por parte da polícia e autoridades locais. E também me contaram o quanto resistiram e as inúmeras vezes que retornaram na tentativa de defender o direito de todos por aquele espaço de terra, antes improdutivo”.

Foto: Talles Reis
Foto: Talles Reis

Resultado

Gravado em 2010, somente três anos depois Elayne pode assistir ao filme, numa sessão no Cinema São Luiz, em Recife. Ela diz que gostou muito do resultado e que adorou poder participar do filme. Sobre o prêmio de melhor atriz coadjuvante, “foi uma surpresa para mim ganhar o prêmio de Brasília”. Hoje, com 17 anos, Elayne não mora mais no assentamento, mas sempre vai visitar a sua mãe que está assentada.

No filme, a mãe de Elayne é a assentada Gercina Maria da Costa, uma das coordenadoras do assentamento, mãe de 4 filhos e com 59 anos, 10 destes vividos intensamente dentro do MST, sua grande paixão, como costuma sempre dizer.

Ela lembra até hoje da primeira visita do diretor do filme ao acampamento: “chegaram no momento de estresse, logo após um despejo, já sofremos três despejos, naquele momento não dei muita atenção. Inté pensei que era passageiro, que não ia acontecer nada”.

o assistir o filme, D. Gercinda se emocionou muito “quando Cris é abandonada e passa a noite toda na estrada. Foi o momento que mais me emocionou, porque mãe sempre tem sentimento. Até chorei…”. Satisfeita com a participação no filme, revela que “tinha um sonho muito grande de me ver na televisão. Para mim foi um sonho realizado”.

O filme “Eles Voltam” tem deliberadamente um cunho político. Para Lordello, era importante que Cris conhecesse um universo rural que fosse “mais além”, que demonstrasse também para protagonista e para o público questões essenciais que explicitassem as injustiças sociais do país.

“E o tema da reforma agrária, apresentado através de um assentamento do MST e de pessoas que ali vivem, auxiliaria nessa construção política do filme. Mas tentei ter o cuidado de não soar muito panfletário, em respeito à experiência da minha personagem. Por isso optei por uma forma mais sutil de retratar o assentamento”, destaca.

Em cartaz

O filme “Eles Voltam” está em cartaz em Recife (Cinema da Fundaj), Rio de Janeiro (Estação Botafogo e Ponto Cine), Belo Horizonte (Cine 104) e em São Paulo (CineSesc).

 

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