Acesso a cidades isoladas continua bloqueado por manifestantes em RO

Linha de acesso está bloqueado desde quinta-feira, 6, por manifestante da região (Foto: Dayanne Saldanha/G1)
Linha de acesso está bloqueado desde quinta-feira, 6, por manifestante da região (Foto: Dayanne Saldanha/G1)

Agricultores e indígenas se dizem afetados com a falta de mantimentos. MPF proibiu a abertura de uma nova rota por reserva natural

Dayanne Saldanha – Do G1 RO

Os moradores de Nova Dimensão, distrito de Nova Mamoré (RO), seguem com a manifestação na  estrada 421, rota alternativa usada para permitir o transporte de mercadorias até os municípios de Guajará-Mirim e Nova Mamoré, isolados por conta da cheia histórica do Rio Madeira. Com a estrada em péssimas condições, os moradores pedem a abertura de um acesso por dentro do Parque Estadual de Guajará-Mirim, obra que chegou a ser autorizada por órgãos estaduais, mas foi impedida por determinação do Ministério Público Federal por se tratar de uma área de reserva natural e indígena. A cheia do Rio Madeira atinge o afluente Araras, que interditou a BR-425, principal acesso para a fronteira com a Bolívia.

O protesto é pacífico, mas os ânimos já estão exaltados após a negativa da Justiça Federal. Segundo os moradores, os prejuízos são altos devido a falta de possibilidade de envio de produtos e acesso à mercadorias. “A gente vem sofrendo, perdendo tudo. Somos 14 mil habitantes nessas redondezas que estão ficando sem comida e sem remédio”, diz Afonso de Souza, agricultor. A estrada está fechada desde a quinta-feira (6), e só vai ser reaberta quando a Justiça Federal autorizar  o manejo das máquinas pela estrada-parque, segundo os manifestantes.

Nova Mamoré e Guajará-Mirim estão ilhados desde o dia 14 de fevereiro, quando foi decretado o estado de emergência nas cidades. Para solucionar o problema do transporte de mercadorias até a região, foi criada uma rota alternativa através de Nova Dimensão, mas a má condição da estrada dificulta o trafego de veículos. Para permitir o escoamento da produção, moradores às margens deste trecho pedem a abertura de um trecho de 11,5 quilômetros pelo parque estadual.

De acordo com os moradores, com o problema de acesso, os preços subiram muito e a gasolina, por exemplo, chega a custar R$ 5 o litro. O preço do gás de cozinha subiu 100%.

Na sexta-feira (07), um ônibus com mais de 50 indígenas chegaram ao local para apoiar o movimento. Eles também se dizem prejudicados com a falta de mantimentos. “Viemos para ficar até liberar a estrada”, diz o cacique de uma comunidade indígena na Linha 14, próximo a Nova Dimensão, Isaias Oro Waran.

O professor indígena Eliseu Oro Nao também pede pela abertura da estrada. “O governo tem que fazer alguma coisa para liberar a estrada. Estamos precisando muito desse acesso”, conta.

O chefe de gabinete do estado, Waldemar Albuquerque, foi até o local do protesto para ouvir as reivindicações. Segundo ele, o governo do estado está ciente das dificuldades na região, que está praticamente ilhada, e que a única solução seria a abertura da estrada, entretanto nenhuma ação pode ser feita por conta da determinação do MPF. “Vamos fazer uma petição para a Justiça Federal, apontando as consequências da situação de emergência, em detalhes, para mostrar a realidade dessas pessoas que estão sendo afetadas por esse processo de enchente”, afirma o representante do Governo de Rondônia.

“Guajará-Mirim pede socorro”
Comerciantes e empresários de Guajará-Mirim se dizem preocupados com a dificuldade de abastecimento na região. Faltam itens básicos e medicamento na região. Diante da situação, a população realizou uma manifestação na noite de sexta-feira (7). Julio Miguel, funcionário público e fazendeiro, acredita que a manifestação surtirá efeitos: “Precisamos fazer com que as autoridades nos escutem. A abertura da estrada parque não é só importante, mas sim indispensável”, afirma.

Leonardo Kyshakevych, hoteleiro, conta que os prejuízos são grandes e sem prazo para solução. “Estamos indignados pelo isolamento de Guajará. É inacreditável! Estamos totalmente abandonados. Economia sufocada com demissões em massa  e custos altíssimos com a falta de material na cidade”. O empresário afirma já ter demitido quatro funcionários e que o faturamento teve uma queda de 15%. “Não sei como vou fazer para sobreviver nesses próximos meses, já que não tem data para o isolamento acabar”, desabafa o empresário.

Sidney Dias de Oliveira, empresário do ramo de autopeças diz que a falta de mercadoria tem feito o faturamento despencar. “Queremos uma luz para resolver essa situação”, conta.

Depois da concentração na entrada da cidade, que reuniu cerca de mil manifestantes, o protesto seguiu em carreata pelas principais ruas da cidade, formando uma fila de aproximadamente 2 quilômetros, entre carros, motos, caminhões e bicicletas.

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