AM – Moradores do Tarumã usam rede social para tentar salvar o ‘último igarapé limpo de Manaus’

Um grupo de moradores do Tarumã decidiu agir e não esperar que o pior aconteça com o igarapé Água Branca, alertado como o último igarapé limpo de Manaus (Euzivaldo Queiroz)
Um grupo de moradores do Tarumã decidiu agir e não esperar que o pior aconteça com o igarapé Água Branca, alertado como o último igarapé limpo de Manaus (Euzivaldo Queiroz)

‘SOS’ Água Branca: Alerta virtual, ameaça real. É nesse lema é levado pelos moradores que pedem ajuda pelas redes sociais

Carolina Silva, A Crítica

Numa grande cidade como Manaus, a pressão da urbanização produziu, ao longo dos anos, consequências ao meio ambiente, a exemplo dos prejuízos causados aos igarapés. O desmatamento de área verde e a poluição são alguns dos fatores que ameaçam a “qualidade de vida” desses cursos d’água. Mas para especialistas, nem tudo está perdido. Porém, avisam: “dar vida” novamente aos igarapés não será uma tarefa fácil e o desafio tem custo muito elevado.

Por isso, um grupo de moradores do Tarumã, Zona Oeste, decidiu agir e não esperar que o pior aconteça com o igarapé Água Branca, alertado por eles como o último igarapé limpo de Manaus. Resolveram, então, contar a história do igarapé por meio da rede social Facebook, como tentativa de chamar a atenção para a importância da preservação do curso d’água.

É que, apesar de ser protegido pelos moradores, o igarapé Água Branca ainda é ameaçado pela expansão da urbanização na área do Tarumã. “É uma tentativa quase desesperada de chamar atenção para uma prática equivocada que marca Manaus desde sua fundação: derrubar o mato para a cidade crescer. Essa prática destruiu todos os grandes igarapés que entrecortam nossa cidade. Essa prática é do século passado, mas mentes obsoletas continuam achando que floresta urbana é apenas mato velho que impede o crescimento e só serve para ladrão se esconder”, explica um dos moradores, Jó Farah.

Alterações

De acordo com a bióloga Domitila Pascoaloto, da Coordenação de Pesquisas em Clima e Recursos Hídricos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alguns trabalhos de pesquisa mostraram que as alterações dos igarapés de Manaus ocorreram por causa da urbanização, mas sobretudo, por falta de cuidados nesse processo.

“As alterações que estão tendo, por enquanto, são mais da urbanização mesmo. Se simplesmente parassem essas alterações, a própria natureza cuidaria para que ele voltasse a ser natural”, afirma.

“Meus quatro filhos e outras crianças aprenderam a nadar em suas águas. Esse igarapé (Água Branca) era considerado balneário da cidade. Era monitorado (água coletada mensalmente para exames de balneabilidade) e avaliado”, lembra Farah. Ele e os demais moradores temem que os danos causados à nascente do Água Branca seja o começo de um processo de destruição do igarapé.

“Enquanto tiver a nascente, você sempre terá esperança de recuperação, porque ela que está fornecendo a água. Só que se não parar com as ações, não adianta. Não adianta a nascente jogar água limpa se tem um monte de gente jogando muito mais coisa que vai sujar ou prejudicar de outra forma essa água. Tem que ter uma ação conjunta do poder público com a população. Porque se só um lado fazer não vai adiantar”, ressalta Pascoaloto.

Morador do Tarumã Jó Farah: “O igarapé da Água Branca está vivo”

“Não somos contra o crescimento da cidade. Somos contra o crescimento que está acabando com o último cinturão verde que ainda abraça Manaus. As zonas norte e leste se transformaram em regiões espraiadas com pouquíssimas áreas verdes remanescentes e quase nenhum igarapé vivo. A zona oeste onde está a Área de Proteção Ambiental (APA) Tarumã sempre teve vocação rural. Por isso manteve muitas de suas florestas até hoje intactas. São fragmentos enormes que abrigam uma fauna belíssima e rara. Igarapés e nascentes que ainda encantam quem não conhece. Águas que foram balneários, agora estão poluídas e desaguando no Rio Negro. O igarapé da Água Branca está vivo, cheio de peixes e com água limpa, fria e oxigenada para injetar no corpo doente do igapó do Tarumã-Mirim um pouco de água boa. Porque a cidade quer matar esse igarapé?”

Bióloga do Inpa Domitila Pascoaloto: “Teve uma mudança por causa das obras”

“Temos como exemplo o igarapé do Acará, da bacia do Tarumã,  e que nasce na Reserva Ducke. Nós o monitoramos por vários anos e vamos lá de vez em quando. Dentro da reserva ele está natural. Quando fizemos um trabalho em 2002 e 2006, ele passava por um balneário, no Tarumã. Depois passamos a fazer a coleta em outro balneário, do “Douradinho”. Quando retornamos no ano passado para fazer coleta, perto de onde passará a continuação da avenida das Torres, vimos que ele já está totalmente alterado. Onde era o Douradinho, nosso controle, agora está de fundo para um residencial. Por enquanto, é mais uma alteração hidrológica, porque a gente ainda não chegou a fazer a coleta da água lá. Os moradores dizem que já está alterado. Então, o que está acontecendo lá é que teve uma mudança na parte hidrológica do igarapé por causa das obras desse residencial”.

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