SP – Ditadura tentou esconder militantes enterrados como indigentes em Perus

O administrador foi ameaçado por auxiliar famílias que buscavam militantes desaparecidos durante a ditadura (foto: Câmara dos Vereadores de São Paulo)
O administrador foi ameaçado por auxiliar famílias que buscavam militantes desaparecidos durante a ditadura (foto: Câmara dos Vereadores de São Paulo)

Administrador do cemitério Dom Bosco, em São Paulo, estranhou falta de registros da destinação de ossadas de indigentes, mas foi orientado a nunca falar no assunto nem mostrar documentos a ninguém

Por Rodrigo Gomes, na RBA

O ex-administrador do cemitério Dom Bosco (em Perus, zona noroeste da capital paulista) Antônio Pires Eustáquio afirmou nesta segunda-feira (24), em audiência pública das comissões estadual e nacional da verdade, na Assembleia Legislativa de São Paulo, que foi orientado a não falar sobre indigentes e não mostrar a ninguém os registros de sepultamento do local. Isso teria ocorrido no início dos anos 1980, durante reunião com toda a administração de cemitérios da cidade de São Paulo.

Os gestores públicos temiam que familiares de vítimas começassem a procurar por militantes dados como desaparecidos durante a ditadura (1964-1985). Segundo Eustáquio, estava reunida toda a diretoria do departamento de cemitérios da capital. “Orientaram a gente que não desse entrevista, não mostrasse os registros, não mostrasse o local. Nem desse os livros de registro nas mãos de ninguém. Me foi pedido que não desse muito alarde ou que falasse muito sobre indigentes sepultados naquela época”, contou.

Ele disse ainda que recebeu ameaças por ter se engajado no auxílio às famílias que buscavam militantes desaparecidos durante a ditadura. “Eles ligavam no cemitério, mandavam recado pelos funcionários. Não sei quem era. A (ex-prefeita) Luiza Erundina garantiu minha segurança. Eu morava bem na frente do cemitério, tinha filhos pequenos. Fomos para longe”, relatou.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.