Santo Antônio desrespeita limite operacional e prejudica Jirau

3766Temor é que danos irreversíveis possam ser causados a casa de força da UHE Jirau; Santo Antônio contesta acusação

Por Wagner Freire – Jornal da Energia

A reportagem do Jornal da Energia teve acesso a um documento em que o consórcio construtor da usina de Jirau, Energia Sustentável do Brasil (ESBR), afirma que a hidrelétrica de Santo Antônio (3.580MW) está desrespeitando o limite operacional estabelecido pelo projeto e que isso está ocasionados diversos impactos às estruturas da UHE Jirau (3.750MW). As usinas estão localizadas no rio Madeira, dentro do estado de Rondônia.

A notificação, datada de 6 de fevereiro, foi endereçada ao presidente da Santo Antônio Energia, Eduardo de Melo Pinto, com copia à Agência Nacional de Águas (ANA), ao Ibama, à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Segundo a ESBR, a altura máxima suportada por Jirau é de 74,8 metros em relação ao reservatório da usina de Santo Antônio.

“As estruturas da UHE Jirau foram projetadas considerando uma cota máxima do remanso do reservatório da UHE Santo Antônio de 74,8M a jusante do barramento da UHE Jirau”, detalha o documento. Esse nível de água garantiria o atendimento aos requisitos as normas técnicas brasileiras e aos critérios de projeto no que diz respeito à segurança e estabilidade de Jirau.

Porém, a UHE Santo Antônio estaria operando com um reservatório que, no início de fevereiro, estaria acima do limite autorizado na licença de operação. Ao não respeitar esse limite, alega a ESBR, prejuízos estariam sendo causados ao empreendimento de Jirau.

“Tal fato (…) está ocasionando diversos impactos nas estruturas do empreendimento e demais existentes no canteiro de obras, incluindo infiltração na ensecadeira da 2ª fase da casa de força da margem direita e danos nos Sistemas de Transposição de Peixes, no atracadouro da margem esquerda, nos pátios provisórios de equipamentos, dentre outros”, afirma a ESBR.

A ESBR alerta para o perigo eminente de se causar danos irreversíveis a casa de força da margem direita, onde estão instaladas 28 unidades geradoras, caso ocorra o rompimento da ensecadeira à jusante, e consequente inundação de toda a casa de força, devido à pressão a qual não está dimensionada.

“Em decorrência deste eminente perigo, de forma preventiva, nossos diretores e gerentes já entraram em contato com seus gerentes e diretor para antecipar ações necessárias ao imediato deplecionamento do reservatório da UHE Santo Antônio”, diz a notificação. “É extremamente necessário que a operação da UHE Santo Antônio respeite o estabelecido pelo Ibama e pela ANA, de forma a não causar impacto na UHE Jirau”, completa.

Esta situação traz à tona a disputa entre os dois consórcios na Aneel, em que ambos exigem o aumento da cota de seus reservatórios e o que garante, para um ou para outro, uma receita extra ao longo de suas concessões. Porém, o aumento da cota da UHE de Santo Antônio diminuiria a geração de energia da usina de Jirau.

Procurada pela reportagem, a ESBR preferiu não manifestar sobre o assunto.

Já a Santo Antônio Energia informa que  hidrelétrica está sendo operada na cota máxima de 70,5 metros, respeitando rigorosamente todas as condições e determinações técnicas e atendendo plenamente a Licença de Operação. “Desta forma, não existe nenhum fundamento técnico ou legal que ampare ou resguarde a afirmação da Energia Sustentável do Brasil, concessionária responsável pela implantação e operação da usina Jirau, que aponta irregularidades na operação do nosso reservatório”, argumenta a companhia, em nota.

A empresa diz que se coloca à disposição da Aneel, da ANA e do ONS para prestar qualquer outra informação adicional sobre sua operação.

MAB acusa usinas de afetar o comportamento do Rio Madeira
No último dia 13 de fevereiro foi decretado “estado de emergência” no município de Porto Velho devido às chuvas intensas e a grande cheia no rio Madeira. Com previsões de médias históricas, esta pode ser a maior enchente dos últimos 100 anos, de acordo com o prefeito, Mauro Nassif.

Diversos moradores tiveram que sair de suas casas por causa do alagamento. O Corpo de Bombeiros, junto com a Defesa Civil e o Exército, continuam com trabalho intenso de retirada das famílias em áreas de risco.

Além do excesso de chuvas, o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) afirma que as usinas de Jirau e Santo Antonio estão afetando o comportamento do Rio Madeira.

“A acumulação de água nos reservatórios e o aumento da vazão dos vertedouros das usinas de Santo Antônio e Jirau potencializam os alagamentos naturais do período e mais áreas, que antes não sofriam alagamento, são atingidas”, diz o MAB. “Além disso, a velocidade e amplitude das inundações estão muito maiores, alegam moradores de todas as comunidades.”

Durante a reunião sobre a situação da cheia do Rio Madeira, na quarta-feira (12/2), entre representantes de órgãos de segurança de Porto Velho, o gerente de operação e manutenção do consórcio Santo Antônio Energia, Amauri Alvarez, negou responsabilidade dos consórcios, afirmando que: “não há como comprovar construção da usina de Santo Antônio com a cheia do rio Madeira”.

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