Terrorismo é ter Bolsonaro como presidente da Comissão de Direitos Humanos, por Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

A proposta da lei antiterrorismo é tão nonsense que não vale a pena gastar bits com ela.

Mas se essa piada de mau gosto passar, sugiro contarmos também outra piada, aquela da punição retroativa com base na lei.

Afinal de contas, se parlamentares de um partido que tem entre suas fileiras pessoas que foram torturadas na essencial luta pela democracia passaram a achar que manifestação é terrorismo, então os seus companheiros sejam os primeiros julgados por essa definição do crime, com base em suas ações na ditadura. Fazendo um malabarismo jurídico, talvez possamos dizer que “terrorismo” não prescreve…

(Em tempo, eu concordo com a maior parte do que eles fizeram.)

E dá-lhe plano de marketing, campanha de comunicação e o Pelé gerando vergonha alheia com declarações ufanistas… Já não bastasse a gente ter que engolir um mascote de nome Fuleco (FU-LE-CO!!!), fornecer toalhas brancas com as iniciais da Fifa bordadas com fios de ouro e entregar cadáveres de operários mortos em “acidentes” nas obras dos estádios, ainda temos que ver uma tentativa de aprovação de lei restringindo direitos.

Tenho, aliás, uma sugestão de definição de terrorismo:

“Terrorismo é um partido que se diz historicamente ligado aos direitos humanos gastar um tempão discutindo se assume ou não a comissão ligada ao tema enquanto somos obrigados a assistir Jair Bolsonaro ameaçar presidi-la, falando os impropérios de sempre, na chantagem para que o PP herde uma comissão considerada mais importante.”

Conversei com deputados federais a fim de entender quem ficará com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Alguns membros da bancada preferem perder Direitos Humanos do que a Comissão de Seguridade Social e Família, que tem tratado de questões de saúde. Segundo eles, isso pode causar impacto no programa Mais Médicos em ano eleitoral. Entendo politicamente. Mas não.

E alguém puxa a cordinha do mundo que acho que passou meu ponto e eu quero descer. O governo do Estado do Rio de Janeiro adota o terrorismo de Estado como forma de governar e tem gente que nunca abre a boca.

Pelo contrário, há veículos de comunicação que estão usando desavergonhadamente o cadáver de Santiago Andrade, como comentei em outro post, para tentar vender suas teses sobre manifestações, tentando criminaliza-las. Não diferem em nada dos políticos supracitados que querem aprovar leis que possibilitem punir protestos populares como atos terroristas. Até porque palavras, ditas em um megafone, machucam em massa.

“Se morreram, é porque são bandidos”, disse um comandante da polícia, tempos atrás, após uma operação em uma comunidade pobre no Rio de Janeiro.”

“Todos são suspeitos até que se prove o contrário”, afirmou outro.

“Foi igual a dar tiro em pato no parque de diversões”, resumiu um policial civil.

Em 2007, a polícia chegou chegando nos morros, cometendo uma verdadeira chacina, sem diferenciar, sem perguntar. Duas dezenas de pessoas morreram. Parte delas com tiros na nuca – o que demonstra uma mira incrível ou uma falta de vergonha gigante. Naquele momento, o Rio foi mais fundo em sua opção pelo terrorismo de Estado ao invés de mudanças estruturais em tempos de Jogos Panamericanos.

Para alguns, do governo, da mídia, do Congresso, mortos são lembrados enquanto úteis.

Pensando bem, entrega para o Bolsonaro a comissão mesmo. Faz sentido.

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