Notas com “adoçante e pseudoafeto”

Eustáquio José – Com caturrice e ironia

Não pude resistir a minha recente leitura do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e a recente audição de Com açúcar, com afeto do sempre genial Chico Buarque. Isso tudo junto à minha caturrice irônica rotineira deu nisso aí: com adoçante e pseudoafeto”.

Mas tem que se ser assim diante de tanta “coisa interessante” que acontece em nossa vida cotidiana não é? Então vamos ao que interessa.

1- Em primeiro lugar os rolezinhos. Diante da vociferação dos direitistas de plantão, que culminou na frase de Rodrigo Constantino, ícone do liberalismo tupiniquim (sic), em sua célebre conclusão que os jovens da periferia não toleram a riqueza alheia, a civilização mais educada, os locais mais refinados e são bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade, e morrem de inveja da civilização. Não sei por onde começar diante de tanta excrescência que este liberal conseguiu metralhar em só uma frase. Mas uma coisa é certa: ele é porta-voz coerente do conservadorismo que admira. Nossa sociedade racista, classista e conservadora pulou efusivamente de alegria diante dessas declarações tão obscenas do esclarecido que tem birra (briguinha) com Olavo de Carvalho a quem ele chama de direita tacanha, sendo ele uma direita high tech! A declaração de Constantino lembra um grego antigo se vangloriando de sua educação e jogando terra no barbarismo dos que estavam fora e não eram cidadãos, mas ele esqueceu que é brasileiro e que aqui dentro a educação não é lá grande forte? Parece que sim… 

Ao pé das declarações infelizes de Constantino tem-se as declarações do prefeito e governador de São Paulo, apoiando a minha tese de que no fundo no fundo eles se parecem mais do que supõe a nossa vã filosofia. O prefeito, petista, Fernando Haddad declarou que precisa “conversar com os jovens e que não há mal algum no rolezinho”, na verdade pode até ser “falta de opção na cidade para os jovens se expressarem, então vamos construir praças, parques e espaços públicos para os jovens darem vazão aos seus potentes hormônios”. Já o governador tucano Geraldo Alckmin disse que os rolezinhos são normais e comuns e que “já deu vários rolês nas praças”. Ambos concordam num ponto: é preciso dar vazão aos jovens. Pois o que eles devem fazer é sair dos shoppings e ocupar outro espaço. O “local refinado” não é lugar para o jovem da periferia.

2- Maranhão. Bem, aí a situação é mais complicada. A nossa governadora e pertencente ao clã Sarney, a Roseana Sarney, que não corre mais risco de impeachment já que o presidente da Assembléia Legislativa (do mesmo partido dela) arquivou o processo por dizer que ela já estaria tomando providências para conter a crise do sistema penitenciário maranhense e evitado, com isso, a intervenção federal, parece que tomou só uma providência até agora por lá: suspender provisoriamente o fornecimento de lagostas e camarões, além de sorvetes (afinal o Maranhão fica no nordeste, e é verão) por um determinado tempo. Afora isso hoje já teve uma tentativa de motim nas dependências do complexo penitenciário de Pedrinhas e a Comissão dos Direitos Humanos do Senado não pode entrar em todos os pavilhões para averiguar as condições – com certeza desumanas – do presídio. Um preso conseguiu, diga-se de passagem, entrar em contato com uma rádio local e reclamar “ao vivo” da situação do presídio. É mole? Pois é. É essa situação que o presidente da Assembléia Legislativa disse estar controlada pela governadora.

Em tempo o governador de São Paulo está gastando R$ 31 milhões com um novo sistema de bloqueio de segurança nos presídios paulistas. O primeiro presídio a receber o sistema é o Presidente Venceslau no qual criminosos bem conhecidos estão presos. Vale ressaltar que depois de várias tentativas frustradas agora o governo espera de uma vez por todas acabar com a questão da comunicação de presos com o mundo fora da prisão e diminuir o controle dos crimes por parte desses grandes líderes de facção criminosa. Basta saber se funciona depois de tanta coisa.

3- Por último a Ação Penal 536. Depois de idas e vindas e longos nos de espera, agora o STF parece que vai julgar o chamado Mensalão Tucano (ou Mensalão Mineiro). Já chegou a última fase antes do começo efetivo do julgamento. A Procuradoria Geral da União agora terá que fazer a denúncia forma e a ação penal será finalmente aberta. Vale lembrar que ela vem justamente quando nós pensávamos que o show iria terminar com o mensalão petista. Olhem bem! Ainda é de se notar o ocultamento da notícia por parte das grandes redes da mídia. Não seria difícil prever essa realidade. Longe da telenovela que foi a Ação Penal 470, a Ação Penal 536 promete passar quase que em branco e com notinhas curtas assim como o escândalo das contas na Suíça de outro mensalão que é o do DEM (da oração, do pão de fruta, enfim, vocês já lembraram). Vale lembrar que muito provavelmente nesse país nós não veremos tantas condenações nessa AP 536, mas pelo menos a sua existência é acalentadora e dá certa impressão de funcionamento (embora capenga e só por conveniência) do maquinário judicial desse país.

Depois de tantas notícias assim, eu preciso descansar minha condição caturra por um tempo e fazer com que vocês reflitam por aí! Boa sorte!

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