Polícia abriu inquérito para apurar o caso, que teria sido cometido por disputa de terras. Prefeito e mais testemunhas deverão ser ouvidos nesta quarta-feira
Por João Henrique do Vale, em EM
Policiais da Delegacia de Conflitos Agrários de Belo Horizonte e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) vão ouvir nesta quarta-feira o prefeito de Vazerlândia, Felisberto Rodrigues Neto (PSB), que é suspeito de ter tentado matar o líder da Comunidade Quilombola Brejo dos Crioulos, José Carlos de Oliveira Neto, 52 anos, conhecido como “Veio”, e seu filho Marcos Antônio Oliveira de 21. O ataque teria acontecido na última quinta-feira em São João da Ponte, no Norte de Minas Gerais. Um inquérito foi aberto nesta terça-feira para apurar o caso.
José Carlos prestou depoimento em Belo Horizonte na manhã desta terça-feira. A delegada responsável pelo caso viajou para São João da Ponte, durante a tarde, onde vai ouvir testemunhas do caso junto com a promotora de Januária, Monique Mosca Gonçalves. A Ordem de Advogados do Brasil (OAB) também acompanha o caso.
A confusão entre Véio e o prefeito da cidade teria acontecido na última quinta-feira. De acordo com a denúncia que chegou ao MP, Felisberto teria ido até uma terra de propriedade dele que foi invadida pela comunidade quilombola. O terreno foi um dos contemplados pelo Decreto de Delimitação da Área Quilombola assinado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2013.
O prefeito teria tomado conhecimento de que as terras estavam sendo usadas apenas para plantação pela comunidade quilombola. Por isso, segundo a denúncia, teria ido ao local para tentar reaver a propriedade. “O José Carlos afirmou que o prefeito estava junto com o filho e com dois homens que não eram conhecidos na região. E que durante o encontro, eles discutiram”, afirma a promotora Monique Gonçalves.
Na briga, um dos homens desconhecidos teria sacado uma arma e atirado. O tiro não acertou José Carlos e nem o filho dele, Marcos Antônio. “O Véio não fala que o tiro foi em direção a ele, pois ele correu. Ainda não temos nada de concreto, pois as investigações devem começar amanhã (quarta-feira)”, diz a promotora.
José Carlos ainda denunciou que policiais militares também estavam junto com o prefeito no momento da confusão. O comandante da PM entrou em contato com a promotora e afirmou que os policiais já não estavam na propriedade quando aconteceu o atrito. “Segundo o comandante, o prefeito ligou para ele na manhã da quinta-feira e disse que a terra foi ocupada por quilombolas. Com isso, pediu para eles (PMs) irem lá para retomar a terra de foram pacífica”, conta Gonçalves. Os dois policiais teriam ido em um carro separado do prefeito e, quando chegaram e viram que não tinha nenhum morador, voltaram para a cidade. “O comandante afirmou que os PMs chegaram a aconselhar o prefeito a sair da terra”, completou.
Conforme a promotora, o comandante também contou que conversou com o prefeito e ele negou os tiros. Segundo a versão do político, o barulho ouvido por Véio se tratava de fogos de artifício.
Investigação
Na manhã desta quarta-feira, a promotora e uma delegada da delegacia de Conflitos Agrários de Belo Horizonte vão começar a ouvir as testemunhas do crime. Entre as pessoas que vão prestar depoimento estão policiais militares, o prefeito e o filho dele.
Entenda o caso
A luta pela propriedade começou em 2011. O terreno de 17 mil hectares foi desapropriado em outubro daquele ano depois de intensas manifestações dos quilombolas. Em 2013, a fazenda foi retomada pela comunidade de Brejo de Crioulos, pois o terreno já estava incluído no território quilombola.
Em 5 de dezembro do ano passado, a Presidente Dilma Rousseff (PT) assinou uma série de decretos para a desapropriação de territórios quilombolas e entregou documentos para a emissão de posse da terra. Ao todo, 24 comunidades quilombolas foram beneficiadas com a imissão de posse, entre elas a Comunidade de Brejo de Crioulos.
O EM.com.br entrou em contato com a prefeitura de Varzelândia, mas o prefeito não foi encontrado para comentar o caso.