Tenharim e os conflitos agrários: A última trincheira contra o desmatamento na Amazônia

Foto: Gabriel Ivan/Mídia NINJA
Foto: Gabriel Ivan/Mídia NINJA

Por Cley Medeiros em Mídia Ninja.

Cercado por reservas indígenas, o sul do estado do Amazonas sofre com a especulação latifundiária desde o início da construção da Rodovia Transamazônica (BR 230) na região, durante a ditadura militar. Cenário de uma vegetação tropical fundamental para o equilíbrio ambiental do planeta, passou a ser transformado em pasto, ter a exploração de madeira nobre como uma constante, e a existência de garimpos ilegais.

As recentes agressões contra os indígenas na cidade de Humaitá apontam para a delicada situação que vive a região neste momento. Dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPR), revelam que já foram protocolados cerca de 145 pedidos para pesquisas da existência de ouro ao redor da reserva indígena Tenharim, principal da região.
Madeireiros também se aproveitam da ausência de fiscalização para a retirada de madeiras nobres. Segundo Geandro Pantoja, superintendente interino do Ibama, “embora o Amazonas continue sendo o estado com maior cobertura florestal, a região sul está se firmando como nova área de expansão da fronteira agropecuária.” Ele afirma que o grupo de pessoas que desmatam é formado por grileiros que invadem os assentamentos de produtores rurais que esbarraram na legalização fundiária de suas terras.

De acordo com Henrique Tremante, chefe de Operações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Apuí e Humaitá concentram as maiores áreas desmatadas pela expansão do chamado ‘arco do desmatamento’. “Por serem fronteira norte com o desmatamento que avança do Mato Grosso e Rondônia, esses municípios estão mais vulneráveis”.

LENTIDÃO

A demora do Estado em concluir as buscas de três pessoas desaparecidas desde o dia 16 de dezembro é a causa da onda de violência na última semana contra os indígenas, que tiveram casas e pertences queimados por moradores da cidade de Humaitá.

O clima anti-indígena na cidade é muito forte. O tom de Nilda Almeida, comerciante há 15 anos no local, deixa claro: “Os índios são muito folgados, eles não recebem dinheiro do governo? Por quê tem que vir para a cidade?”. Humaitá, que é formada a partir de mais de 4 etnias, é um dos municípios com mais índigenas do Brasil, segundo dados do IBGE.

Com a tensão e depois de ter a sede do órgão incendiada, a FUNAI cogita a possibilidade da transferência da sede para Porto Velho. Ambientalistas apontam que com a retirada da entidade o Sul do Amazonas vai ficar mais vulnerável, e as ações de desmatamento e os conflitos contra indígenas podem aumentar.

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