Ano novo, caturrice (e ironia) nova (s)

Caturrice - Eu atiroPor Eustáquio José, em Com caturrice e ironia

Não bastou mudar de ano, isso é trivial. É preciso também mudar de nome, de atitude, de incisão sobre a realidade e é essa a proposta para 2014 em diante: caturrar e ironizar, duas faces da mesma moeda, que não seja, então, a mesma moeda de troca dos principais assuntos de nosso cotidiano, mas algo melhor e bem mais sustentável do que a mera aceitação alienante da realidade.

Aos que perguntarem se essa ironia tem alguma coisa a ver com um expediente socrático a resposta é sim. A construção de conceitos pautada pela colocação das verdades antes inabaláveis em xeque é algo salutar e que casa bem com a nossa situação cultura, social e política (três tomos da mesma situação brasileira que queremos assumir como ponto principal da análise desse blogue neste ano recém-nascido em diante). Aqui no Brasil, agora em ano de Copa do Mundo e Eleições Majoritárias, esses três elementos formam um todo seguramente quase miscível: a nossa realidade pós-junho de 2013, pós réveillon de Jaboatão de Guararapes (reduto administrativo do PSDB, diga-se de passagem) PE (a ponta do iceberg da história dos contratos para shows de fim de ano na cidade da região metropolitana do Recife, a ser investigado sob a gestão tucana), pós escândalos de superfaturamento nos preços dos elefantes brancos (quase todos serão) da Copa do Mundo desse ano e das traumáticas declarações da dupla Pelé/Ronaldo. E ainda, não se pode deixar de citar, toda a vulgaridade política e promiscuidade eleitoral que estamos presenciando com críticas momentâneas e alianças partidárias ultrajantes somada a incrível capacidade de nossa realidade midiática de produzir monstros no sono da razão que vivemos há anos. 

Diante disso é preciso caturrar e ironizar. Diante disso é preciso conter a sede grotesca de conservadorismo que esse país vive, muito devida a uma sangria desatada por tender ao individualismo, ao estático, ao conversar as posições devido ao medo da ascensão da chamada nova classe média aos lugares de destaque e de condução desse país. Para o horror dos nobres de berço, da elite (tanto intelectual quanto econômica no Brasil), a classe média chegou e é preguiçosa demais para se mover em direção a um quadro diferente. O bolsa tudo do PT criou um contingente novo de pessoas acomodadas, com síndrome de Macunaíma, e, ao mesmo tempo, pelo que esse grande povo será eternamente agradecido ao lulismo popular e ao petismo de conveniência, consumidora e dominante, ditadora das linhas desse país. Vorazes consumidores e alienados pelo auxílio assistencialista que, enquanto assistencialismo visa se perpetuar, já que dá a condição admirável de acomodação, de se deitar eternamente em berço esplêndido, essa classe média vacila e cai facilmente na rede tanto da mídia quanto da lida política petista. Oscila entre o lulismo devotado e o globismo descarado. A revolta de junho de 2013, talvez, tenha passado somente pela indiscutida reação dessa classe média que foi às praias do Brasil inteiro comemorar a incrível jornada de pular ondas em 2014.

Por essas e outras, para desconstruir essas mazelas de pensamento e de ação, para poder, também, desmascarar essa ideia maniqueísta de que existe esquerda e direita nesse país (e conter essa onda de reação desesperadora de conservadorismo que assola o país justamente pelo desconforto que esses emergentes sociais causam nessa gente de estamento) e pelo esvaziamento de discurso e de ação de esquerda, é que este blogue vai encrudescer sua conduta. Um pequeno veículo a mais de divulgação e de concepção das desigualdades sociais e culturais desse país, uma fina ironia acerca dos ditames religiosos que estão vindo a reboque nessa onda conservadora brasileira, uma peleja turrona contra essa malvadeza que se perpetua dessa política chata de partidos que repetem críticas e elogios e no final das contas são camaradas de copo, de bicicletas e de tudo o mais.

Não se descansará por aqui enquanto restar uma verdade abstêmia de falseabilidade (não gosto dessa palavra, mas a emprego aqui com tom irônico também). Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Amazonas, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão, Tocantins, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Paraíba, Santa Catarina, Pará, Paraná, Espírito Santo, Brasília, Goiás, Tocantins, Sergipe, Alagoas e Minas Gerais, nenhum estado ficará imune ao tempo da ironia e ao tempo da caturrice. Recado dado: feliz ano novo e que caturremos todo o ano entre ironias por esse espaço.

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