Nota de Repúdio do Centro Acadêmico de Medicina da UnB a declarações de hostilidade aos indígenas por parte de um professor

Racismo_Crime(1)O Centro Acadêmico de Medicina Professor Gilberto de Freitas em reunião ordinária do dia 26 de novembro de 2013 deliberou o pedido a ser feito às instâncias superiores da Universidade de Brasília do afastamento imediato do docente Marcelo Hermes Lima, que ministra a disciplina de Bioquímica e Biofísica para o primeiro semestre do curso de medicina.

Em entrevista dada no mês de novembro de 2013 à revista Piauí, o professor Marcelo Hermes Lima deu declarações de extremo preconceito, afirmando que os indígenas não deveriam estudar em universidades, porque não são capazes de fazê-lo; ele afirma ainda que os indígenas desperdiçam seu tempo no ambiente acadêmico.

Ora, então Josinaldo, o primeiro indígena formado na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, que logo que finalizou seu curso passou no programa de residência médica em Medicina da Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, desperdiçou seu tempo? E tantos outros estudantes indígenas, que apesar de toda a dificuldade imposta pelo sistema educacional brasileiro conseguem ingressar na universidade por um método de seleção e se destacam em inúmeras disciplinas, também não são capazes?

A resposta seria sim, segundo o professor, que afirma que nosso modelo deve copiar o da Harvard, que só aceita “os mais bem qualificados”. e essa deveria ser a lógica do sistema universitário brasileiro; ou seja, elitista e sem qualquer comprometimento com o desenvolvimento social de nosso país.

Queríamos nós que um dos maiores etnólogos e fundador da Universidade de Brasília, Darcy Ribeiro, estivesse aqui e presenciasse essas atitudes de intolerância e tão longe do propósito daquele eminente grupo de intelectuais, que ousou criar um modelo novo de universidade, que fosse capaz de dominar todo o conhecimento humano e criar um país novo, valorizando sua autenticidade. Nesse contexto, a presença de múltiplas etnias, culturas e saberes são de extrema valia para a concretização do sonho de nossos fundadores. Não à toa, o Hospital Universitário de Brasília há pouco tempo abriu o ambulatório de Saúde de Indígena, já sendo referência no país todo.

Sabemos, claro, que a universidade é um espaço de multiplicidade, em que todas as opiniões são recebidas, questionadas, debatidas e por fim postas a prova para que se tenha a maturação do conhecimento. No entanto, há de se convir que atitudes e declarações preconceituosas de cunho eugênico devem se afastar da sociedade e ainda mais do ambiente acadêmico, o qual reflete seu conhecimento para a nação.

Não estamos enviando este documento apenas para manifestar nossa indignação pelo o que foi dito na reportagem, mas também pelo o que os estudantes de medicina do primeiro semestre do curso vivenciam com o supracitado professor. Declarações de valor ético questionáveis sobre indígenas, negros, pobres, estrangeiros e até mesmo estudantes do curso de nutrição, que cursam a disciplina junto com a medicina, fazem parte do cotidiano do curso de bioquímica e biofísica. Por conseguinte, pedimos o afastamento imediato do professor Marcelo Hermes Lima da disciplina de Bioquímica e Biofísica ministrada para o primeiro semestre do curso de medicina, pois acreditamos que devemos sim ter opiniões diferentes independentemente de ideologia político-partidária, porém atitudes depreciativas de um sábio contra seus próprios aprendizes não devem ser vistas com indiferença.

Atenciosamente,

Centro Acadêmico de Medicina Professor Gilberto de Freitas Faculdade de Medicina – UnB – Gestão Barra 122.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Aislan Felipe

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