Justiça suspende implantação de linha de transmissão entre AM e RR que invade 123km da TI Waimiri Atroari e área de povo isolado Pirititi

Procurador da República Julio José Araújo ao lado de um dos líderes da etnia Waimiri Atroari, Mário Parwe. Foto: Adneison Severiano - G1/AM
Procurador da República Julio José Araújo ao lado
de um dos líderes da etnia Waimiri Atroari, Mário Parwe. Foto: Adneison Severiano – G1/AM

Traçado de rede invade reserva indígena e área de índios isolados, diz MPF. Órgão denuncia que não houve estudos prévios para implantação da linha, em total respeito à Convenção 169

G1 AM

A Justiça Federal decidiu suspender, em caráter de liminar, a implantação da linha de transmissão de energia elétrica entre Manaus e Boa Vista. A medida atende a um pedido do Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM). O MPF alega que a linha de transmissão passa irregularmente pela reserva indígena Waimiri Atroari. O Ministério Público também afirma que não houve estudos prévios para implantação da linha. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) comunicou que medidas recursais estão sendo feitas para rever o caso.

Segundo o MPF, durante a apuração da ação civil pública foi detectado que o traçado do empreendimento abrange 123 quilômetros da Terra Indígena Waimiri Atroari, situada entre os estados do Amazonas e Roraima. Ao todo, o linha tem extensão aproximada de 315 quilômetros.

Durante a investigação, o MPF constatou que a trajetória da linha de transmissão foi definida sem consulta prévia ao povo indígena Waimiri Atroari e sem a realização de estudos técnicos no local que indicassem todas as alternativas possíveis para o local do empreendimento. Além de atravessar a reserva indígena, o traçado indicado pelo projeto também prevê intervenções nas proximidades de local habitado pelo povo indígena isolado Pirititi, em área de 43 mil hectares situada no município de Rorainópolis, que fica localizado a 294 quilômetros distância de Boa Vista.

Na decisão liminar, a Justiça destacou que a ausência de consulta ao povo indígena Waimiri Atroari representa descumprimento do indicado na Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho. “A convenção é explícita quando afirma ser obrigatório que os governos devem consultar os povos interessados, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente”, ressalta um trecho da decisão da juíza Jaiza Maria Pinto.

A multa fixada pela Justiça foi de R$ 10 mil por dia de descumprimento. A decisão ainda cabe recurso. A ação civil pública segue em tramitação na 3ª Vara Federal no Amazonas.

Anulação

Antes de ajuizar a ação civil pública, o MPF informou que chegou a expedir recomendação à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para que anulasse o Edital de Leilão nº 04/2011, especificamente quanto ao seu Lote A. O MPF afirmou que a agência não apresentou respostas concretas quanto às ilegalidades apontadas pelo órgão na fase de apuração do caso. A recomendação se dirigia ainda ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para que este anulasse o processo de licenciamento ambiental do empreendimento, com a suspensão imediata das atividades relacionadas ao projeto da linha de transmissão.

Como pedido final da ação, o MPF/AM requer a condenação da União, da Aneel, do Ibama e da empresa responsável a implantação da linha de transmissão, além da anulação do Lote A do Edital de Leilão nº 04/2011, a retirada de qualquer traçado do projeto que possa atingir a área delimitada como ocupada pelo povo Pirititi, e à interrupção das atividades de implantação da linha de transmissão enquanto não houver diagnóstico das alternativas existentes para o local do empreendimento.

A Aneel comunicou que já foi intimada da decisão liminar, por meio da Procuradoria Federal no Amazonas e está tomando as medidas recursais com a urgência que o caso requer, em atuação coordenada pela Procuradoria-Geral Federal (PGF). “Ante a grande importância estratégica da obra, que ligará a cidade de Boa Vista ao Sistema Interligado Nacional”, enfatizou a agência reguladora em nota.

G1 procurou a superintendência do Ibama no Amazonas, por meio da assessoria comunicação, mas não houve êxito. A reportagem também contatou a Diretoria de Licenciamento Ambiental (DILIC), em Brasília, porém as ligações não foram atendidas.

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