MS – Indígenas afirmam que 25 anos de espera pela homologação de território que é constitucionalmente seu causa ‘angústia’ e ‘insegurança’

Índio terena Moacir Rodrigues, de 50 anos, colhendo melancias (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)
Índio terena Moacir Rodrigues, de 50 anos, colhendo melancias (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)

Índios [retomaram áreas ocupadas por fazendas dentro da] Terra Indígena Buriti em maio de 2013. Comunidade espera solução do governo federal para impasse.

Tatiane Queiroz, do G1 MS

Os índios que [retomaram áreas ocupadas por fazendas dentro] da Terra Indígena Buriti, em Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande, afirmam que a espera por uma solução do governo federal em relação à posse das terras causa mais “angústia” e “insegurança” à comunidade Terena. Em maio de 2013, um índio morreu em um confronto com policiais federais e militares durante o cumprimento de uma reintegração de posse na fazenda Buriti.

“Quem errou foi o governo federal, quando deu títulos aos produtores rurais de terras que eram nossas. Ele precisa consertar o erro. Temos esperança que o governo dê um solução e de que esse impasse se resolva ainda neste ano”, afirmou o líder indígena Alberto Terena, de 40 anos.

Após a [retomada da área ocupada por fazendas dentro da] Terra Indígena Buriti, os índios começaram a plantar. Na [chamada] fazenda Buriti, eles cultivaram em uma área de aproximadamente 10 hectares. No local eles plantaram milho, feijão-de-corda, abóbora, mandioca, pepino e batata-doce, abacaxi, banana e melancia.

O Terena Moacir Rodrigues, de 50 anos, disse ao G1 que colheu mais 300 melancias no último mês. “O que é plantado é consumido aqui e também é vendido. Conseguimos de R$ 7 a R$ 10 por cada melancia, depende do tamanho”, relatou.

Nas [áreas retomadas], os índios montaram casas com paredes feitas de taquara (um tipo de bambu) e teto de folhas de bacuri (um tipo de palmeira).

Rodrigues estava na fazenda no dia em que foi cumprida a chamada ‘reintegração de posse’. “É uma lembrança muito triste, tive medo de morrer”, disse.

Família indígena terena mora na área ocupada da fazenda 3R (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)
Família Terena mora na área da Terra Indígena antes ocupada pela 
fazenda 3R. (Foto: Tatiane Queiroz/ G1 MS)

O casal indígena Lourenço Bernardo e Nair Bernardo, de 49 e 48 anos, [vivem numa área retomada antes ocupada pela] fazenda 3R. Junto com eles moram seis filhas, um filho e os netos. Além da plantação, que ocupa cerca de 3,5 hectares, o casal também cria galinhas.

“Estamos lutando pela terra, mas não é mais para nós, é para os nossos filhos e netos. Começamos a plantar, mas até que a nossa terra seja demarcada, não estamos seguros, podemos perder todo o nosso trabalho”, relatou o indígena.

O casal também estava na região no dia do confronto com os policiais. “Às vezes não consigo dormir, aqueles tiros e as bombas de gás, tudo aquilo não sai da nossa cabeça”, disse Nair.

Solução

O governo federal já anunciou que, para solucionar o impasse na região, vai comprar a área ocupada pela fazenda Buriti com dinheiro da União e vai indenizar o proprietário [sic], Ricardo Bacha, pela terra e pelas benfeitorias. No entanto, até o momento, o processo de compra da propriedade [sic] não foi oficializado.

“Essa é a vontade do produtor rural e também do índio. Tanto nós, quanto eles, queremos a solução pra esse impasse. Estamos confiantes de que tudo será resolvido ainda neste mês”, disse o diretor do Sindicato Rural de Sidrolândia, Rogério Menezes.

O diretor afirmou que as propriedades adquiridas pelos produtores rurais do município não foram “griladas” ou tomadas, e sim compradas. “Se o governo federal quer as terras, que pague por elas. É o mais justo”, defendeu.

Força Nacional

Na última sexta-feira (29), o Ministério da Justiça determinou a permanência da Força Nacional de Segurança Pública na área da Terra Indígena Buriti e nos municípios da região do cone sul do estado. O objetivo da operação é evitar novos conflitos entre índios e produtores rurais.

A permanência dos militares na região foi determinada por uma portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU). De acordo com o texto, as equipes devem ficar no estado por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado.

Diálogo

Na última semana, representantes do governo federal estiveram em Mato Grosso do Sul para dar continuidade à discussão de alternativas para resolução dos conflitos na área da Terra Indígena Buriti e de outras regiões.

Marcelo Veiga, assessor especial do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e Nilton Luiz Godoy Tubino, coordenador-geral de Movimentos de Campo e Territórios, ligado à Secretaria-Geral da Presidência da República, se reuniram com o governador André Puccinelli (PMDB), com representantes dos produtores rurais e com lideranças indígenas em Campo Grande, Sidrolândia e Dourados.

Família cria galinhas em área ocupada de fazenda (Foto: Tatiane Queiroz/G1 MS)
Família cria galinhas em área retomada  (Foto: Tatiane Queiroz/G1 MS)

Nota: todas as partes grifadas da matéria foram alteradas por este blog.

Para saber um pouquinho mais sobre Ricardo Bacha, leia Com (apenas) 13 ‘fazendas’, ruralista e ex-deputado Ricardo Bacha acusa indígenas de quererem ampliar territórios em MS

 

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