BA – Uma das últimas casas Tupinambá no centro de Olivença, de uma indígena de 81 anos, foi incendiada ontem

Campanha Tupinambá

Cartaz ruralista, defendendo a violência contra os Tupinambá
Cartaz ruralista, defendendo a violência contra os Tupinambá

Os Tupinambá denunciam que a casa de dona Nivalda Amaral de Jesus (uma senhora indígena de 81 anos de idade, mãe de uma cacique Tupinambá, Valdelice) foi incendiada ontem (30/11) e que ela perdeu quase tudo. Provavelmente, mais um ataque promovido por indivíduos contrários à demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.

Dona Nivalda é uma das poucas indígenas cuja casa localiza-se no centro do distrito de Olivença (município de Ilhéus), próximo à igreja de Nossa Senhora da Escada, sede do antigo aldeamento jesuítico de mesmo nome.

A partir da década de 1920, a então vila de Olivença – antes habitada majoritariamente por indígenas – começou a ser politicamente governada por não-índios. Supostamente em nome da “salubridade”, foi emitida uma ordem administrativa proibindo a construção de casas de taipa; como observam Viegas e Paula (autores do relatório de identificação e delimitação da TI), era de conhecimento dos administradores que os indígenas não tinham renda financeira suficiente para erigir casas de tijolos e telhas, de modo que essa ordem decretava, de fato, sua expulsão da vila.

Conforme a quadrícula e as ruas principais, que descem do promontório ao mar, eram “urbanizadas”, os índios mudavam-se para áreas antes desabitadas, dando origem a novos bairros, como o Cai N’Água, e a localidades fora da vila, como Sapucaieira. Essa ordem administrativa, contudo, foi desafiada por um (brilhante) caso isolado de resistência, relatado por Viegas e Paula. A ordem era: quando as casas de taipa se desmanchassem, o que acontece naturalmente nesse tipo de construção, já não seria permitido reconstruí-las, senão de tijolos.

Sabendo disso, a família de dona Nivalda (que ainda não era nascida) construiu, em sigilo, uma nova casa, dentro da velha – fizeram a estrutura de madeira, a tapagem de barro e a cobriram de palha. Quando derrubaram a casa velha, já deteriorada, para espanto dos não-índios, veio à luz uma nova casa de taipa. Aturdidas, as autoridades permitiram que esses indígenas aí permanecessem. Exatamente no local da casa agora incendiada.

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