Minas acolhe imigrantes de países latinos

Mackenson e a mulher, Minouche, tiveram o filho, Alvin, em Belo Horizonte, pelo SUS (Foto: Denilton Dias)
Mackenson e a mulher, Minouche, tiveram o filho, Alvin, em Belo Horizonte, pelo SUS (Foto: Denilton Dias)

Haitianos já trazem suas famílias, mas exploração da mão de obra impede vida melhor

Jader Rezende, O Tempo

O terremoto no Haiti em 2010 provocou uma fuga sem precedentes naquele país. Na primeira onda, em 2011, a predominância era de homens urbanos e considerável parte se estabeleceu na Grande BH, atraída pelos parques industriais, comércio informal e construção civil. Na segunda onda, em 2012, vieram os trabalhadores rurais, que se concentraram, em sua maioria, no Sul de Minas, onde muitos atuam até hoje em lavouras.

Agora surge a terceira onda, que traz, em escala ainda maior, mulheres e crianças, ao mesmo tempo em que desponta a primeira geração de brasileiros-haitianos. Em todas as fases, no entanto, imperam a exploração de mão de obra irregular.

Depois dos haitianos, as etnias predominantes que buscam um lugar ao sol na Grande BH são formadas por bolivianos, argentinos, paraguaios e chineses. A colônia de haitianos, de acordo com a ONG Amigos do Haiti, chega a 3.000 indivíduos e se concentra no município de Contagem.

É onde vive com a família o tradutor Mackenson Vieux, 30, que veio tentar a sorte no Brasil e divide as despesas da casa alugada (e prestes a ser vendida) com oito conterrâneos.

A enfermeira Minouche Daguerre, 33, mulher de Mackenson, veio em seguida, e há 11 meses o casal teve seu primeiro filho, Alvin, que nasceu sob as benesses do SUS na Maternidade Sofia Feldman, em Belo Horizonte. “Se fosse no Haiti seria uma fortuna”, diz Mackenson, ao elogiar o “atendimento de Primeiro Mundo” dispensado à mulher e ao filho.

O haitiano cruzou a fronteira do Brasil com o Acre e logo foi arregimentado por um representante de uma empresa de engenharia de Contagem. Mas o sonho de uma vida melhor, revela, foi frustrado. O salário de R$ 1.150, afirma Mackenson, mal dá para o sustento da família. “Tento enviar dinheiro para o Haiti para ajudar minha irmã e uma filha adotiva, mas só consigo separar cerca de US$ 300 a cada três meses”, lamenta.

Minouche conta que chegou a conseguir emprego em Contagem, onde trabalhou por um ano, mas foi demitida quando estava no oitavo mês de gestação. A saída, diz ela, será buscar asilo nos Estados Unidos, onde mora um irmão que entrou ilegalmente naquele país pela fronteira do México. “Talvez por lá possa ajudar quem ficou para trás”, sonha.

Para entender e tentar buscar soluções para esse impasse foi criada uma verdadeira força-tarefa formada por integrantes de 14 instituições do poder público e da sociedade civil organizada, que já identificou situações de exploração de mão de obra análogas ao trabalho escravo, sobretudo entre populações vindas do Haiti com a expectativa de conseguirem trabalho e moradia no Brasil. O grupo acredita que a situação se agrave com a proximidade da Copa do Mundo.

Parte desses imigrantes chega ao Brasil pelo Estado do Acre, municípios de Brasileia e Epitacolândia e, pelo Amazonas, via Tabatinga.

Nas respectivas fronteiras, a Polícia Federal e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos viabilizam carteira de trabalho e visto para os imigrantes, e ainda mantêm um cadastro de empresas consideradas confiáveis para tentar minimizar o tráfico de pessoas e a utilização da força de trabalho, principalmente entre os haitianos.

Propagação

Fases de imigração. Três grandes “ondas” marcam a vinda de haitianos para o Brasil; a terceira, em curso, traz mulheres e crianças de imigrantes já estabelecidos.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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