É Fantástico: aberta a temporada de caça às mulatas

Créditos da foto: revistaafro
Créditos da foto: revistaafro

O ‘Fantástico’, no último domingo, lançou o concurso para escolher a nova Globeleza: um exemplo eloquente de como o negro é tratado na TV brasileira.

Por Marcos Sacramento, em Carta Maior/DCM

Durante as próximas três semanas, elas participarão de uma espécie de gincana até uma ser escolhida pelo público. Neste mesmo período, poucas negras igualmente lindas emprestarão suas imagens para vender margarina, carros, pacotes de viagens ou seguros em anúncios televisivos.

O concurso é um exemplo eloquente de como o negro é tratado na TV brasileira: sempre relegado a papéis secundários ou carregados de clichês, sejam eles negativos ou supostamente positivos, como a alegria ou a malemolência atribuídas às pessoas de cor. Quando estão em evidência, é dançando freneticamente no “Esquenta”, o equivalente televisivo a uma grande festa na senzala.

Outra disputa de beldades promovida pelo mesmo “Fantástico” atesta esta exclusão. O “Menina Fantástica”, concurso para revelar uma top-model, tinha pouquíssimas negras na disputa. Às belas negras, resta o Carnaval e a possibilidade de um reinado até a quarta-feira de Cinzas. Passarela da moda? Só com sorte ou por conta de míseras cotas, como as adotadas no último Fashion Rio. É como se mulher negra e bonita fosse sinônimo de passista de carnaval, apenas.

Uns bons anos atrás li “Carnaval, Malandros e Heróis”, de Roberto DaMatta. Ele aborda, entre outras coisas, as inversões de valores em que o carnaval opera. O machão se veste de mulher e os pobres e iletrados tornam-se reis nas passarelas ou doutores no samba.

Isso ajuda a entender o papel que as aspirantes a Globeleza estão representando atualmente na mídia. A presença delas no “Fantástico” seria apenas uma subversão controlada e temporária da ordem estabelecida.

E enquanto as meninas dançam, o Show da Vida segue seu curso e a cada domingo consolida preconceitos raciais.


Sobre o Autor: Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

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