‘Vamos esperar a terra trabalhando’, diz cacique em fazenda Buriti em MS

Aviso na porteira de entrada da fazenda São Sebastião da Serra. (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)
Aviso na porteira de entrada da fazenda São Sebastião da Serra. Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS

Na propriedade, índio morreu em conflito com policiais em maio de 2013. Funai avalia fazendas dentro da Terra Indígena Buriti para calcular valor.

G1 MS

Na expectativa de conquistar o direito de permanecer definitivamente nas fazendas que ocupam, na Terra Indígena Buriti em Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande, índios terenas aproveitam a tranquilidade após os conflitos por terra na região para estabelecer moradia, plantar e criar animais nas propriedades. Em maio de 2013, um índio morreu após um conflito com policiais federais durante reintegração de posse.

O cacique Carlinhos Bernardes, líder da aldeia Recanto, comunidade indígena que ocupa parte da área da fazenda Buriti, conta ao G1 que a comunidade acredita que o processo de demarcação da Terra Indígena Buriti está próximo de acontecer.

“Creio que essa terra é nossa e vai ficar para nós. Vamos esperar a terra trabalhando. Plantamos milho, abóbora, abacaxi, banana e melancia”, explica. Bernardes afirma que o clima na região é de tranquilidade e que desde maio, “a confusão parou”.

Na área que ocupam, próximo a sede da fazenda Buriti, que foi queimada durante a ocupação indígena em maio, duas famílias dividem uma casa de palha e outras quatro famílias vão da aldeia para o local ajudar no plantio durante o dia. O objetivo da comunidade é aumentar a plantação para dez hectares e levar mais famílias para a região.

Bernardes diz que a aldeia Recanto está superlotada de famílias e que falta espaço para acomodá-las. Ele explica que as crianças, além de estudar, também ajudam os pais no cultivo da terra. “O dia a dia está feliz para nós. Tudo tranquilo. Estamos trabalhando, plantando e ajudando nossas famílias. Daqui nós sobrevivemos e cuidamos de nossos filhos”.

Terena Daniel Jorge, 66 anos: "Queremos que a aldeia melhore porque estamos cansados de esperar". Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS
Terena Daniel Jorge, 66 anos: “Queremos que a aldeia melhore porque estamos cansados de esperar”. Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS

Esperança

Também agricultor, o indígena terena Daniel Jorge Campos, 66 anos, acredita na demarcação da Terra Indígena Buriti e espera que as condições das aldeiras na região melhorem após o fim do processo.

“Se vai ficar para nós [as fazendas]? Tenho esperança que sim, que essas terras fiquem pra gente plantar, criar gado. Tem muito vizinho aqui que não tem mais onde colocar os animais nas aldeias”, diz Campos, que cria carneiros.

Ele afirma que a demora no processo de demarcação das terras desgasta a comunidade e agrava os problemas nas condições de vida nas aldeias.  “Queremos que a aldeia melhore porque estamos cansados de esperar. Tenho certeza de que vai melhorar”, conta o idoso, que continua morando na aldeia.

Compra de terras

Técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) fazem vistorias nas fazendas da região da Terra Buriti desde o dia 25 de setembro. Na quinta-feira (10), três técnicos de uma das equipes de trabalho estiveram pelo segundo dia na fazenda São Sebastião da Serra.

O objetivo dos trabalhos é avaliar o valor das benfeitorias das fazendas, um dos critérios necessários para calcular o valor de cada propriedade. Em seguida, os valores serão apresentados para o Governo Federal, que se propôs a comprar as áreas dos produtores e entregá-las aos indígenas. Chegou a ser cogitado usar os Títulos da Dívida Agrária (TDA) para conseguir a verba necessária para pagamento dessas terras, mas ainda não há decisão sobre isso.

Como funciona?

O levantamento das benfeitorias é uma das etapas para calcular o valor de cada propriedade. A primeira fase do levantamento é feita por técnicos da Agência Estadual de Desenvolvimento Agrário (Agraer), que avaliam a topografia das fazendas e elaboram um mapa da propriedade com os marcos territoriais.

A segunda etapa é feita pelas equipes técnicas da Funai que avaliam as benfeitorias. Na última fase, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) calcula o valor da terra nua.

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