História do Massacre de Ipatinga é recontada 50 anos depois

Carteira no bolso amorteceu bala e salvou o ex-operário Hélio Ferreira
Carteira no bolso amorteceu bala e salvou o ex-operário Hélio Ferreira

Audiência pública convocada pela Comissão Nacional da Verdade ouve relatos do Massacre de Ipatinga 50 anos depois

Estado de Minas – A memória do Massacre de Ipatinga começou a ser recontada nessa segunda-feira, quando o episódio que resultou em mortes e desaparecimento de operários da Usiminas completou 50 anos. Em audiência pública organizada pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), em parceria com a comissão estadual, foram ouvidos relatos daqueles que estiveram presentes na usina em outubro de 1963 e de familiares de trabalhadores que até hoje não foram encontrados. Também foram ouvidos representantes da Usiminas e da Polícia Militar (PM). Os principais temas investigados no encontro foram o total de mortos – segundo a versão oficial foram oito vítimas, mas presentes afirmam que o número é pelo menos três vezes maior – e a relação entre a empresa, na época estatal, e os militares. Mesmo distante de completar o quebra-cabeça sobre o que se passou em Ipatinga, integrantes das comissões ressaltaram a importância de ouvir versões que ficaram esquecidas por cinco décadas.

O episódio foi considerado um exemplo de violações graves aos diretos humanos, que se tornariam cada vez mais comuns a partir do ano seguinte, com o golpe militar de 1964. Como muitos pontos envolvendo o massacre continuam obscuros, ex-operários e familiares destacaram a importância de que as novas investigações das duas comissões tenham resultados mais concretos e possam levantar informações sobre o paradeiro dos desaparecidos. “Foi feito um pacto muito forte nessa cidade em que as autoridades oficiais não falam sobre o caso. Encomendaram 32 caixões, mas temos apenas oito vítimas oficiais. Aqui tem pessoas parentes de vítimas, pessoas que perderam pais aos 9, 10 anos e até hoje não encontraram informação sobre eles”, afirmou Edson Oliveira, da Associação dos Trabalhadores Anistiados de Minas.

Voz dos sobreviventes

Trabalhadores que estiveram na portaria da usina – local onde aconteceu o confronto – ainda guardam detalhes sobre os momentos de terror que viveram. “O massacre não foi só no dia 7. Era uma constante no nosso dia a dia. Trabalhávamos de dia, sonhando à noite com nossa família longe, mas eles montaram um quartel aqui, num laboratório da ditadura, contrariando tudo o que desejavam os inconfidentes”, afirmou José Horta de Carvalho, sobrevivente do massacre.

Outro ex-operário, Hélio Mateus Ferreira, tem até hoje uma bala alojada em seu corpo. Durante a audiência, ele contou sobre os momentos de apreensão vividos na porta da usina e afirmou que o tiro que o atingiu só não o matou por que foi amortecido pela carteira que levava no bolso.

O coronel PM Eduardo Reis, apresentou o inquérito do incidente e ressaltou que informações levantadas pelo órgão apontam o indiciamento de 20 militares. “A PM é uma instituição comprometida com o Estado democrático de direito. Com o indiciamento dos envolvidos, a polícia se manifestou contrária ao que aconteceu”, explicou.

Os integrantes da comissão estadual Betinho Duarte e Jurandir Persichini apresentaram uma versão diferente. Segundo eles, todos os indiciados foram absolvidos em 1965 e não houve qualquer punição para os militares.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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