Atenção – Piada/ameaça do dia: “Basta! Produtores rurais [sic] estão cansados de esperar e prometem novos confrontos”

indígenas_mortes_latuff2013Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

“Seria cômico se não fosse trágico”, como escreveu Dürrenmatt. Segundo nota de ontem, 30, da Famasul, “cem dias depois da promessa de compra de áreas para atender a reivindicação dos índios Terenas de ampliar a Aldeia Buriti, em Sidrolândia, e sem perspectiva de cumprimento por parte do Governo Federal, um grupo de produtores rurais [sic] da região se reúne para externar sua preocupação com a possibilidade de novos atos violentos no campo” (ver detalhes importantes sobre a reunião em notícia republicada abaixo).

Ora, há quantas décadas os povos indígenas esperam que seus direitos sejam respeitados, cumpridos e garantidos? Se considerarmos a Constituição de 1988, são duas décadas e meia. Se levarmos em conta documentos pontuais de governantes, desde o império, há muitas décadas. Agora, se formos pensar na invasão feita pelo Cabral português e pelos saques subsequentes, então estamos mesmo é falando de séculos! Por isso estão desde ontem em Brasília, juntamente com quilombolas, representantes de comunidades tradicionais e outros brasileiros e brasileiras que com eles se solidarizam, agora e sempre. 

A tal Carta Magna que vai completar 25 anos no próximo dia 5 de outubro determina claramente, em seu Art. 67: “A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição”.

Cinco anos! Ou seja: há 20 a Constituição de 1988 é pisoteada pelos podres vendidos poderes públicos. E os ruralistas da Famasul estão prometendo guerra por conta de uma espera de cem dias… Como são nervosinhos, esses seres que se julgam imperiais donos das nossas vidas! Sim, das nossas também, uma vez que não respeitam nem a nossa opinião, nem o nosso senso de dignidade e justiça, nem os nossos votos.

Abaixo, posto a reportagem da Capital News exclusivamente por ela ser um alimento a mais para a nossa indignação. Desculpem a maneira péssima de começar o dia, já que várias das declarações fazem mal ao estômago, ao fígado e à alma, mas acho que precisamos ter perfeita ciência do que eles alegam, dizem e ameaçam.  Por isso mesmo, exceto pelo [sic] no título acima, opto por republicar o texto exatamente igual ao original, sem qualquer correção, comentário ou destaque, por mais cínico e revoltante que seja o seu conteúdo.

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“Basta! Produtores rurais estão cansados de esperar e prometem novos confrontos 

Produtores se reúnem na Famasul para dar prazo para fim das negociações. Foto: Deurico Ramos /Arquivo Capital News
Produtores se reúnem na Famasul para dar prazo para fim das negociações. Foto: Deurico Ramos /Arquivo Capital News

Produtores rurais das fazendas próximas à Reserva Indígena Buriti, entre Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, se reuniram na tarde desta segunda-feira (30) na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) para apresentar nota em que pedem ao Governo Federal uma solução para a questão do conflito de terras no Estado até 30 de novembro, caso contrário, irão recorrer à Justiça ou haverá novos conflitos.

Segundo a nota emitida pelos produtores, após 12 anos de disputa, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região julgou os embargos infringentes e reconheceu que as propriedades rurais não eram terras indígenas, com isso, índios invadiram as fazendas e, de acordo com a nota, usando de violência e ameaça. A nota menciona a morte do indígena Oziel Gabriel no dia 1º de maio deste ano durante a reintegração de posse da Fazenda Buriti, que pertence ao ex-deputado estadual Ricardo Bacha, como fato que despertou a atenção do Governo Federal para a questão fundiária no Estado.

A nota cita reuniões que ocorreram entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, representantes indígenas e produtores rurais, e a proposta de que as terras seriam adquiridas pelo Governo e ressarcidas aos fazendeiros. Após 100 dias de negociações, e sem ter uma ação efetiva por parte do Governo Federal, produtores decidiram aguardar mais 60 dias e se não houver uma solução, prometem buscar na Justiça, e garantem que se for preciso, novos confrontos podem ocorrer.

A produtora Dalva Malaquias Ferreira, proprietária da Fazenda Quintandinha, relatou que indígenas entram em suas terras, ameaçam funcionários, escolhem gado e abatem os animais. “A quem recorrer? Pedi ajuda para a Força Nacional, mas não adiantou”, afirmou a produtora.

Segundo o presidente da Famasul, Eduardo Riedel, os produtores não conseguem mais conviver com a situação. “Os produtores estão saturados da falta de solução, nós temos uma ausência de poder, de autoridade, seja do judiciário, do executivo, por meio de suas instituições”, afirmou Riedel. “A situação no Estado é gravíssima pela falta de capacidade das instituições responderam a ausência da lei”, completou o presidente da Famasul.

Riedel alerta para o descontentamento da classe que se posiciona para defender suas terras. “Os produtores estão sim posicionados para não permitir mais invasões. É um direito que eles têm, porque não são eles que estão agindo fora da lei, existe toda uma situação de ilegalidade nas chamadas retomadas”, afirmou Riedel. “Os produtores estão se sentindo abandonados pelo Estado brasileiro e buscam defesa própria”, observa Eduardo.
Segundo o presidente da Federação, não há como avaliar os prejuízos causados para a economia do Estado devido as invasões. “Em Sidrolândia foram mais de 1.200 cabeças de gado que evaporaram da propriedade”, relatou Riedel.

Em Mato Grosso do Sul existem 67 propriedades rurais invadidas em 28 municípios. Entre elas, propriedades que foram invadidas há 16 anos, como a Fazenda Fronteira. “A fazenda foi invadida em 1998, e alguns anos depois, descobrimos nos autos do processo da Funai um documento oficial que dizia que o Conselho Missionário Indigenista (CIMI) esteve na Regional e deu dinheiro para o cacique invadir”, disse Luana Ruiz Silva, advogada e produtora rural.

 

Produtores se reúnem na Famasul para dar prazo para fim das negociações. Foto: Deurico Ramos /Arquivo Capital News
Produtores se reúnem na Famasul para dar prazo para fim das negociações. Foto: Deurico Ramos /Arquivo Capital News

 

Luana conta que os índios permanecem na fazenda e que dividem espaço com os produtores rurais. “Continuamos nossa produção normalmente e vivemos tempo de guerra, de morte, de fogo, de abate de gado, de roubo, de sequestro, e de fome, por parte dos índios, de frio, de desamparo, de desespero”, afirmou Luana que explicou que desde 2012 a convivência tem sido pacífica graças à troca de caciques. “Esperamos que o Governo Federal tenha o mínimo de responsabilidade e compromisso com os cidadãos brasileiros, que somos todos nós”, completou Luana.

A produtora relembrou o caso em que o indígena Dorvalino Rocha, morto em 2005 por um segurança particular da fazenda. Segundo Luana, na época, seguranças foram contratados devido aos abates sistemáticos que ocorriam na propriedade por parte dos indígenas. Em um determinado momento, segundo ela, os índios fizeram uma emboscada para o segurança, que atirou para cima, os indígenas revidaram e também atiraram para cima, até que em um determinado momento, vários indígenas cercaram o segurança que disparou o tiro que atingiu Dorvalino. “O índio que atirou no segurança, que estava onde não deveria estar, e armado, acabou se tornando uma bandeira para os índios, como se os produtores fossem até os indígenas. Mas, não. Os índios que morrem em conflito morrem dentro da casa do produtor rural”, diz Luana Ruiz.

O sentimento de insegurança é latente entre os produtores que exigem justiça e rapidez para a solução do conflito. “A sensação que temos é que estamos sendo empurrados mais uma vez com a barriga, ou seja, não há uma ação eficaz. Nós demos um prazo para o Governo Federal, até o dia 30 de novembro deste ano”, afirmou Ricardo Bacha. “Precisamos receber em dinheiro. Se disseram que vão comprar, que comprem, porque precisamos trabalhar”, completou Bacha.

Ricardo Bacha, proprietário da Fazenda Buriti, diz que produtores precisam trabalhar. Foto: Deurico Ramos /Capital News

A Famasul, junto com a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul) encaminharam no dia 24 deste mês um  ofício ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pedindo providências imediatas para o problema.

 

 Fonte: Samira Ayub – Capital News (www.capitalnews.com.br)

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