RS – Comunidade de Porto Alegre busca titulação de quilombo

Associação local está organizada e aguarda o esperado título de quilombo Foto: Débora Ely / Agência RBS
Associação local está organizada e aguarda o esperado título de quilombo (Foto: Débora Ely / Agência RBS)

Até outubro, Areal da Baronesa deverá ser reconhecido como área de descendentes de escravos

Por Debora Ely, Zero Hora

A comunidade do Areal da Baronesa, na Capital, aguarda com expectativa a decisão, que deve ocorrer até outubro, do reconhecimento do Areal como área de descendentes de escravos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Após a titulação, esse será o segundo quilombo em território porto-alegrense.

A partir daí, fica vedada a venda e a penhora das casas da ruela – um alívio à comunidade que por anos resistiu à especulação imobiliária em uma zona encravada na divisa de dois bairros nobres: o Menino Deus e a Cidade Baixa.

– O local foi progressivamente descaracterizado durante o século 20 por meio de grandes obras de reestruturação urbana, o que resultou em uma crescente marginalização e exclusão dessa população negra. Ficou comprovado que o quilombo assume o modo de vida da sua comunidade, com tradições e história próprias – explica Janaína Lobo, antropologa do Incra.

Em 2004, a comunidade ingressou com um pedido de reconhecimento na Fundação Cultural Palmares. No ano seguinte, o processo foi aberto junto ao Incra. Foi quando teve início um estudo por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que resgatou o passado da região e a história do povo que lá vive. As casas da área, cujas belas fachadas hoje sofrem com a ação do tempo, pertenceram ao barão e à baronesa do Gravataí.

Por lá, o casal plantou a primeira semente do Areal com a instalação de uma chácara, composta por casarões e senzalas. Onde hoje fica a Fundação Pão dos Pobres, foi erguida a mansão da família. Depois que a grande construção incendiou, a baronesa resolveu dividir o território e vendê-lo em lotes – proposta aprovada pela Câmara de Vereadores em 1879. Desde então, as residências passaram a ser ocupadas por escravos livres e foram agregando a população negra de outras partes da cidade. Assim, consolidou-se como um dos primeiros redutos afro da Capital.

SAIBA MAIS

– Outros quatro processos de reconhecimento tramitam no Incra

– Em Porto Alegre, o território da Família Silva, no bairro Três Figueiras, foi reconhecido em 2008 e se tornou o primeiro quilombo da cidade

– Além do Areal da Baronesa, outros quatro processos de reconhecimento de áreas quilombolas em Porto Alegre tramitam no Incra

– Entre eles, está o território da Família Fidelix, também no Menino Deus

– O conceito de quilombo foi se modificando com o passar do tempo

– Primeiramente, entendia-se como sendo um local onde negros evadidos se refugiavam

– Hoje, considera-se um espaço de resistência de populações negras, que possuem uma trajetória histórica própria

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