Por Sassá Tupinambá* – Rede Índios on Line
Quando se fala em igualdade racial, logo imaginamos a igualdade generalizada, como ela deve ser, porém a igualdade racial no Brasil não é tão igual assim. Mas como “quem não chora não mama”, a desigualdade racial da população indígena e cigana continuam mantidas na invisibilidade, assim não temos indígenas nem ciganos nas propagandas, nem nas tele-novelas, nem apresentando telejornais, nem nas caixinhas de leite, nem na universidade, nem ali e nem acolá. Nem é isso que queremos discutir em relação à igualdade racial, nem queremos ser justificativa de propagandas ou qualquer política ditas inclusivas, que tem mais de exclusão e para estereotipar grupos étnicos em desvantagem e saqueados no capitalismo. Não queremos ser usados como massa de manobra e legitimação da mentira, de que não existe racismo no Brasil, de que a Igreja e qualquer outra instituição estatal ou particular não sejam racistas.
O racismo existe e está aí despido, para todo mundo ver e só não o vê quem não quer. Não é o racismo que está mascarado, é quem não o enxerga que está usando tapas nos olhos.
A invisibilidade da população autóctone tem um perfil totalmente diferente da invisibilidade da população negra, por outro lado se tornou mais fácil a autodeclaração negra que indígena. Durante muitos anos, a política do Estado brasileiro para com a população autóctone foi a de integrar esta a nação brasileira, assim se proibiu idiomas destes povos, proibiu suas manifestações religiosas, espiritualistas e culturais em geral. Proibiu e puniu com veemência quem contraverteu.
Assim, oficialmente temos uma população autodeclarada reduzida, mas com um enorme contingente de pessoas sem identidade, que não se vê como branca, que não se vê como negra, mas que tem na família uma avó, ou bisavó pega a laço, ou que tem a avó e avô de povo tal, mas que ela própria não se considera pertencente àquele respectivo povo. Assim a invisibilidade racial passa a invisibilizar o indivíduo.
Temos na cidade de São Paulo cerca de 15 mil indígenas, dados oficiais do IBGE, censo de 2010, que não são enxergados no transporte coletivo, nas escolas, nos postos de saúde, nas ruas, nas prisões, muito menos nas igrejas. São 15 mil invisíveis vivendo na Capital paulista. Porém, o número de renegados é muito maior. Em toda periferia de São Paulo, encontramos pessoas que não sabem qual é o povo que seus ascendentes pertenciam, assim nem se autodeclaram indígenas e nem são reconhecidos como tal. Muitos nem sabem que são indígenas, por seu histórico familiar, de ser retirantes de zonas de extrema pobreza e sem perspectivas de sobrevivência, chegaram em São Paulo sem deixar rastros de suas origens e assim assumem a identidade genérica de “pobres”, sem teto, sem terra, sem emprego. Não usufruem os privilégios dos brancos por motivos óbvios. Não usufruem das políticas públicas para a população negra por motivos também óbvios. São excluídos, renegados e lhes roubaram a identidade.
Como vamos vencer, se nossos guerreiros estão em contexto urbano e sem sua identidade? Como vamos fazer para que nossos guerreiros somem em nossa luta, em defesa do território ancestral? Como vamos fazer para aumentar nossa população? A resposta está na mesma tática que eles usaram para suprimir a identidade desses nossos parentes renegados, a educação.
* Militante do Tribunal Popular e do MIR-BR