Justiça Ambiental mapeia conflitos entre o setor energético e populações tradicionais

RBJAencontroEncontro nacional realizado na Serra pretende mobilizar comunidades diretamente afetadas pelos atuais modelos energéticos

Any Cometti, Século Diário

Representantes das populações afetadas por empreendimentos energéticos se reuniram na Serra, nessa quarta-feira (28), para um mapeamento coletivo dos conflitos que existem nacionalmente por conta da demanda do setor. O 5º Encontro Nacional da Rede de Justiça Ambiental prossegue até sábado (31) e tem entre seus principais objetivos a reflexão sobre a expansão desenfreada da produção de energia no país e o fomento da luta das comunidades impactadas pelos grandes empreendimentos desenvolvimentistas.

Segundo Benedito Matias Porto, das Associações de Pesca e Territórios da Cidadania Norte e diretor da Federação das Associações de Pesca do Espírito Santo, que participa do evento, a extração de petróleo terrestre, com o uso do maquinário conhecido como “cavalinho”, foi uma das grandes atividades responsáveis pela seca da região.  “Além da seca, desocuparam os espaços onde os pequenos produtores criavam suas culturas em pequenas propriedades”, relata.

Esse modelo de extração polui o solo, o manguezal, o lençol freático e o mar, e afeta a vida marinha, prejudicando a produtividade pesqueira da região. Outro problema no norte são os portos, como ressalta Benedito, enfatizando que o trânsito de navios impede a atividade pesqueira e devasta a biodiversidade marinha.

“Queremos que todos os pescadores tenham condições de produzir seus pescados. Somos um grupo que sobrevive da alimentação. Quando falamos de pescado, falamos de alimentação saudável para a população que, com a falta deles, tem sua qualidade de vida reduzida”, alerta o pescador.

Problema igual é causado pela extração do petróleo em alto-mar. Benedito denuncia que toda a área de pesca de Conceição da Barra foi loteada e vendida para as empresas petrolíferas. “No futuro não teremos espaço onde trabalhar, estão tirando nossas condições de sobrevivência. Não podemos continuar calados, porque as famílias mais frágeis desse elo começam a se entregar ao mundo da violência e das drogas para se manter”, considera.

Os problemas enfrentados pelas comunidades pesqueiras do norte se repete em todo o Estado e atinge também as comunidades indígenas de Aracruz e quilombolas do antigo território do Sapê do Norte, formado por Conceição da Barra e São Mateus. Estas, porém, perderam suas terras para a monocultura do eucalipto, principalmente da Aracruz Celulose (Fibria).

Fabíola Melca, integrante do Fórum dos Afetados pelo Petróleo e Gás do Espírito Santo, destacou que os principais povos afetados estão em comunidades não-urbanas, próximos às áreas de mesmas características, também procuradas pelas grandes corporações para a instalação de seus empreendimentos. Esses povos, que mantêm tradições ancestrais, têm sua cultura impactada pelas mudanças ambientais, como a poluição da água e do solo pela extração petroleira, e a ocupação de espaços para usinas de energia elétrica, sem contar a contaminação por agroquímicos.

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