O documentário “Pinheirinho – um ano depois” acaba de ser lançado na íntegra no YouTube

Por Rogerio Beier, em Hum Historiador

É com grande prazer que o Hum Historiador anuncia o lançamento da íntegra do documentário PINHEIRINHO – UM ANO DEPOIS no YouTube para todos que quiserem acompanhar o trabalho que o Lucas Lespier, eu e uma equipe de grandes amigos realizamos para dar voz aos moradores da antiga comunidade do Pinheirinho, de São José dos Campos, que foi massacrada pela Polícia Militar de São Paulo à mando do governador Geraldo Alckmin.

O filme é de livre divulgação e gostaríamos muito que cada um pudesse ajudar a espalhá-lo para tornar a história das pessoas que foram desalojadas do Pinheirinho ainda mais conhecida.

SOBRE O FILME

Pinheirinho – um ano depois é um documentário que tem o objetivo de registrar como vivem as famílias que moravam na antiga comunidade do Pinheirinho um ano após a violenta reintegração de posse realizada pela Polícia Militar de São Paulo, em 22 de janeiro de 2012.

Através desse registro documental, queremos dar voz  às pessoas que viveram o trauma da desocupação para que contem suas histórias e relembrem à sociedade que elas seguem vivendo sob o risco de retornarem à condição de desabrigadas, além de permanecerem sem nenhuma perspectiva de solução definitiva para o seu problema de habitação após a desocupação.

O filme tem como foco central os ex-moradores da comunidade do Pinheirinho e seus depoimentos de como tem sobrevivido desde que foram retirados de suas casas. No entanto, para darmos uma ideia mais aprofundada sobre o que ocorreu logo após a desocupação e quais as reais oportunidades de resolução definitiva do acesso à moradia adequada, também demos voz a outros atores que participaram ativamente de todo o processo de desocupação, como os políticos envolvidos nas negociações que antecederam a reintegração de posse, intelectuais e estudiosos da questão da habitação e moradia no Brasil, jornalistas que cobriram o caso, representantes de órgãos de proteção aos Direitos Humanos, líderes comunitários, advogados, juízes, defensoria pública, promotores de justiça.

BREVE HISTÓRICO DO DOCUMENTÁRIO PINHEIRINHO – UM ANO DEPOIS

Num domingo, às 6 horas da manhã, Alckmin manda a PM desocupar violentamente a comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos. Era o dia 22 de janeiro. Acompanhei as notícias estarrecido pela Internet, jornal e televisão. No mesmo dia estava na Avenida Paulista me manifestando contra esse ato criminoso realizado contra cidadãos que lutam pelo direito de uma moradia adequada.

Os dias foram se passando e eu ia registrando no blog todas as atividades que participei no decorrer daquele mês logo após a desocupação do Pinheirinho (ver histórico abaixo). O amigo Lucas Lespier já tinha uma ideia de fazer um documentário, ao ver meus relatos no blog, me chamou para conversarmos e ver se eu topava fazer parte de um projeto para documentar a história daquelas pessoas. Daí por diante, foram várias reuniões para decidirmos qual linha seguiria o filme e como o realizaríamos. A ideia principal era que o filme não seria sobre o que ocorreu no Pinheirinho, mas sobre as pessoas que foram desocupadas e ainda sofriam, por tempo indeterminado, a violência da desocupação iniciada na truculenta ação da Polícia Militar de São Paulo à mando do governador do estado.

Em julho de 2012, ocorreu uma ato na Câmara Municipal de São José dos Campos, sobre os seis meses da desocupação do Pinheirinho. Foi a oportunidade que imaginamos de fazer contatos com as lideranças da comunidade e tentar ajeitar as primeiras entrevistas com moradores e alguns outros envolvidos, como defensor público, advogado da comunidade e ex-procurador do estado de São Paulo. Foi assim que eu e Lucas partimos pela primeira vez a São José dos Campos, como mostra o pequeno vídeo amador que eu fiz abaixo, em um caminho que ainda seria trilhado tantas outras vezes pela equipe.

Feitos os contatos iniciais, precisávamos levantar a grana para a realização do documentário. Dentre as opções possíveis, decidimos pelo financiamento coletivo através do sistema de crowdfunding, no Brasil muito conhecido através da plataforma Catarse. Através desse sistema, cadastramos um projeto no site da plataforma por um tempo determinado e, todos aqueles que se interessarem, podem colaborar com qualquer quantia para a realização do projeto. Nossa meta era a captação de R$ 10.000,00 para realizarmos o filme praticamente inteiro com trabalho voluntário dos envolvidos. Abaixo segue o vídeo que fizemos para chamar colaboradores que se interessassem em contribuir com projeto.

Enquanto a grana não saía, começamos a realizar as primeiras entrevistas no final de julho de 2012 em São Paulo mesmo, para evitar grandes despesas. Começamos com a relatora da ONU para a moradia adequada e professora da FAU-USP, Raquel Rolnik. Foi uma ótima entrevista e, com base nela, começamos oficialmente nosso projeto.

Em agosto de 2012 já estávamos entrevistando algumas das personalidades que apareceram no filme, como o Senador Eduardo Suplicy.

Quando o projeto conseguiu atingir sua meta no Catarse, ficamos aliviados. Com o dinheiro foi possível comprar alguns equipamentos para poder fazer melhores entrevistas na realização do filme. Além disso, também seria possível pagar um lanche para a equipe que se deslocasse até São José dos Campos para as filmagens que duravam um dia inteiro.

Muitas entrevistas se sucederam até 22 de janeiro de 2013, data que marcaria o primeiro ano após a desocupação dos moradores do Pinheirinho e quando pretendíamos fazer as últimas gravações do documentário. Um ato foi marcado para ser realizado neste dia e lá estava nossa equipe fazendo as filmagens em diferentes locações e aproveitando para fazer mais contatos para garantir o lançamento do filme alguns meses depois em São José dos Campos e São Paulo.

Terminadas as filmagens, o filme entrou em período de edição, onde Lucas trabalhou muito para conseguir finalizar o filme com a qualidade que vocês podem verificar agora. O filme teve algumas exibições em pré-lançamento para verificarmos o resultado de como ficou a produção na tela-grande.

Assim, em homenagem aos moradores do Pinheirinho, a primeira projeção foi feita ao ar livre em São José dos Campos no Campão, local histórico de reunião dos moradores do Pinheirinho que fica no bairro do Campo dos Alemães, ao lado de onde era a comunidade que foi desocupada. Depois disso, tivemos uma pré-estréia no baixo-centro, também ao ar livre em São Paulo, e no Museu da Imagem e do Som, no MIS.

Agora o documentário está disponível na íntegra no YouTube para que todos possam acompanhar essa produção que começou há mais de um ano, que valeu muito esforço pessoal de cada um dos envolvidos, mas que nos enche de orgulho de ter participado.

Meu abraço carinhoso e sincero agradecimento à todos que participaram, em especial aos amigo Lucas Lespier, Felipe Gil, Patrícia Brandão e Juliana Lima.

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