Relatório some e ministros peruanos renunciam em meio à pressão da atividade de petróleo na Amazônia peruana

Survival-fotoElaíze Farias

Um relatório do Ministério da Cultura do Peru apontando as ameaças das atividades de petróleo contra povos indígenas daquele país desapareceu horas depois de ter sido publicado na internet. O episódio aconteceu na semana passada e foi divulgado nesta terça-feira (06) pela ong Survival Internacional, que atua na proteção dos povos indígenas de vários países.

Além da misteriosa retirada do documento do site, o ministro e o vice-ministro da Cultura do governo peruano renunciaram. Acredita-se que a renúncia ocorreu devido à pressão para aprovar o projeto de exploração de gás e petróleo naquela região da Amazônia peruana.

Segundo a nota da Survival Internacional divulgada nesta terça-feira, o plano de expansão do atual projeto de gás da Camisea, que está dentro da reserva Nahua-Nanti para tribos isoladas, tem sido amplamente condenado, e em março, a ONU pediu a sua ‘suspensão imediata’.

O Ministério da Cultura do Peru, encarregado de proteger os direitos dos povos indígenas, emitiu, na semana passada, um relatório indicando os perigos que o projeto colocaria para as vidas dos índios isolados.

Entre as preocupações apresentadas no relatório do Ministério, estão o risco de propagação de doenças entre os índios isolados. Estes não possuem imunidade para doenças comuns que podem ser trazidas por trabalhadores das companhias de petróleo e por forasteiros.

A Survival alertou que o Camisea já levou à morte cerca de metade dos Nahua depois que eles foram contatados pela primeira vez após as explorações petrolíferas iniciais na década de 1980.

Camisea é dirigida por um consórcio de empresas lideradas pela Pluspetrol da Argentina, pela Hunt Oil dos Estados Unidos e pela Repsol da Espanha. Os planos de expansão incluem a detonação de milhares de explosivos e a perfuração de mais de 20 poços.

Os Nahua continuam a sofrer de graves problemas de saúde, como é comum entre índios de recente contato, e a expansão de Camisea cortará ainda mais fundo a sua floresta.

Em uma carta escrita para o Ministério da Cultura, no mês passado, os Nahua rejeitaram o plano de expansão, afirmando: ‘Nós decidimos não permitir que a companhia de petróleo Pluspetrol realize o seu trabalho no nosso território’ devido as suas ‘repetidas quebras de promessa.’

O diretor da Survival International Stephen Corry deu a seguinte declaração: “O governo do Peru parece ter sido apanhado em um tipo de ‘febre do gás’, em que o governo parece determinado a avançar com a expansão do projeto de Camisea, apesar da oposição da ONU, e até mesmo de alguns de seus próprios ministros. Os cidadãos peruanos deveriam estar se perguntando, ‘O que é mais importante – a vida dos índios ou os lucros estrangeiros?”

A pressão petrolífera na Amazônia tem sido uma das principais preocupações de indígenas e indigenistas da região. A atividade pode também afetar o lado brasileiro, na fronteira da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.

Atualmente, vários lotes de áreas indígenas do Peru já estão divididas para a prospecção de petróleo. Entre estas áreas estão as do povo indígena matsés, uma etnia que também vive no lado brasileiro. No caso da Amazônia brasileira, outra área que tem sido alvo da atividade de gás e petróleo é na Bacia do Juruá, no Acre, e na região próxima do território dos índios marubo, também na TI Vale do Javari.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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