Com declínio de Eike, agricultores pedem terra desapropriada de volta

 

NOTA: onde se lê “produtor rural”, neste vídeo, leia-se (como as pessoas aliás falam, se autodenominando) agricultor familiar. “Produtor rural” é o que tem em MS, por exemplo, plantando soja com agrotóxico em território indígena. TP.  

Folha de S.Paulo

Raquel Landim – Enviada especial a São João da Barra (RJ)

Silvana de Alvarenga Barreto enxuga as lágrimas e empertiga-se na poltrona estreita depois de contar que o marido faleceu no dia 5 de maio, logo depois de completarem 29 anos de casados.

Ela está convicta de que Aloísio Barreto “morreu de tristeza” por causa das complicações da depressão que o atormentou desde 2011, quando perdeu suas terras.

“O progresso sempre mexe com alguém, mas aqui só trouxe desgraça. Faz dois anos que tomaram a terra e não fizeram obra nenhuma”, diz Assis, filho do casal.

A indignação de Assis é a mesma da maioria das cerca de 300 famílias que tiveram as terras desapropriadas para a construção do complexo industrial do porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro, o projeto mais ousado do empresário Eike Batista.

Dos 70 quilômetros quadrados –7.000 campos de futebol– desapropriados pela Companhia de Desenvolvimento do Rio de Janeiro (Codin), vinculada ao governo do Estado, só 10% estão ocupados por obras.

A desapropriação, no entanto, está quase completa. Das 466 propriedades, 420 foram desocupadas, algumas com ajuda da polícia. Há na área várias casas demolidas e terrenos cercados com placas como “Propriedade privada da LLX”, “Propriedade privada da Codin” e “Não ultrapasse”. A LLX opera o porto.

Com a derrocada de Eike, atolado em dívidas, os agricultores querem as terras de volta. As lideranças rurais preparam com auxílio de advogados uma ação popular, que vai pedir à Justiça a reversão das desapropriações por “desvio de finalidade”, já que pouca coisa saiu do papel até agora.

O projeto de Eike previa a instalação de siderúrgica, cimenteiras, termelétrica, um polo metal mecânico, um polo ferroviário, entre outras empresas. Eike chegou a dizer que a negociava a vinda de uma fábrica de produtos da Apple para o Açu.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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