Entenda o porquê da onda de protestos raciais nos Estados Unidos

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A absolvição do ex-vigia branco, George Zimmerman, acusado de matar o jovem negro Trayvon Martin na Flórida, reabriu as feridas raciais, tão profundas nos Estados Unidos. Depois de milhares de pessoas irem às ruas em Nova York, Los Angeles, Chicago e Atlanta, no último domingo (14), outros protestos estão marcados para ocorrer nos próximos dias em cem cidades.

No início desta semana, houve prisões em atos perto do prédio da rede CNN, em Hollywood, e outras 15 em Nova York por desordem, segundo a polícia. O julgamento, que terminou no sábado (13) em Sanford, centro da Flórida, dividiu o país entre os que acreditam que Zimmerman, um americano de mãe peruana, que supostamente agiu em legítima defesa e aqueles que pensam que o vigia foi motivado por preconceito racial contra Martin. A Revista Afro preparou um passo a passo para você entender o caso.

O assassinato

O vigia foi acusado de perseguir e atirar no jovem, que estava desarmado, durante uma briga entre os dois na noite de 26 de fevereiro de 2012. No ano passado, o caso já havia provocado manifestações em massa em várias cidades do país, que fizeram o presidente desabafar:

— Se tivesse tido um filho, ele seria parecido com Trayvon – declarou Barack Obama.

À época, Obama convocou um debate sobre racismo e a lei de armas da Flórida, que ampara a defesa pessoal.

As outras reações

Em contrapartida aos protestos populares, o veredicto de sábado foi aplaudido por defensores das armas em todo o país e por todos aqueles que apoiam a lei conhecida como “Stand Your Ground” (“Defenda sua posição”, em tradução livre). Essa lei permite o uso de armas por parte de quem se sentir ameaçado de morte.

No domingo, após a explosão dos protestos, o presidente Obama pediu calma. “Sei que esse caso provocou intensas paixões. No dia seguinte ao veredicto, sei que essas paixões podem se intensificar. Mas somos um Estado de direito, e um júri falou”, afirmou Obama, em nota à imprensa.

Por que a revolta?

As juradas que absolveram Zimmerman da acusação de assassinato em segundo grau, com a possibilidade de pena de prisão perpétua e homicídio culposo ( com pena máxima de 30 anos de prisão) não explicaram as razões de seu veredicto, porque isso implicaria revelar sua identidade publicamente. O tribunal respeitou a escolha das integrantes do júri de manter o anonimato.

A decisão das juradas se baseou nas 27 páginas de instrução entregues pela juíza Debra Nelson, que incluíam duas seções com uma opção para declarar o réu inocente: uso justificado de força letal e dúvida razoável.

Durante quase três semanas, as seis integrantes do júri ouviram dezenas de depoimentos que podem ter criado uma “dúvida razoável”.

— George Zimmerman não é culpado se existe uma “dúvida razoável” de que agiu em legítima defesa — disse o advogado Mark O’Mara ao júri na sexta-feira, antes de sua deliberação final. O advogado afirmou que Zimmerman voltará a portar armas.

A tese da defesa

Como ocorreu o crime:

– Trayvon Martin foi morto a tiros em 26 de fevereiro de 2012, aos 17 anos, quando voltava para a casa dos pais em um condomínio fechado em Sanford, na Flórida, depois de ter saído para comprar refrigerante e um pacote de balas.

– O vigia George Zimmerman (foto) alegou que seguiu o rapaz — que estava desarmado — por considerá-lo suspeito e disparou contra ele em autodefesa, após ter sido supostamente agredido.

– O vigia foi preso seis semanas após a morte, sob forte pressão social.

– No sábado, Zimmerman foi considerado inocente por um júri popular (composto por cinco mulheres brancas e uma de origem hispânica).

– O Departamento de Justiça anunciou que irá revisar as provas para determinar se novas acusações serão apresentadas.

Flórida é o Estado com maior número de armas

Antes do início das deliberações, na sexta-feira, a juíza disse ao júri que, segundo a lei da Flórida, o “homicídio de um ser humano é justificável e lícito, se for necessário, quando se resiste a uma tentativa de assassinato ou se comete um crime grave em relação a George Zimmerman”. A Flórida é o Estado com maior número de pessoas armadas nos Estados Unidos.

Stevie Wonder entra na briga

Enquanto os protestos acontecem, o músico Stevie Wonder prometeu tomar uma iniciativa para colaborar:

— Decidi que até que a lei ‘Defenda sua terra’ seja abolida na Flórida, não vou cantar no estado — disse Wonder no domingo, em Quebec City, onde participou do festival de verão. — Na verdade, não vou cantar em qualquer estado ou região do mundo onde exista uma lei como essa — completou.

Líderes religiosos também se movimentam

Líderes religiosos negros prometeram nesta terça-feira aproveitar a indignação provocada pelo caso Trayvon Martin para tentar revogar leis americanas que permitem o uso de armas diante de uma ameaça e exigir direitos civis.

Em frente à sede do Departamento de Justiça, em Washington, o reverendo Al Sharpton, da igreja Batista e ativista dos direitos políticos e civis, anunciou um Dia de Justiça Nacional em memória ao jovem Trayvon no sábado, com manifestações em mais de 100 cidades em todo o país. Sharpton acrescentou que “dezenas de milhares” vão se reunir em Washington para uma marcha de protesto no dia 24 de agosto, antes do quinquagésimo aniversário da histórica marcha liderada por Martin Luther King na capital americana.

*Com a AFP.

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