The Guardian denuncia violação de privacidade internacional de tráfego de dados pelos EUA

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Jornal The Guardian divulga documentos que comprovam a existência de uma megaferramenta desenvolvida nos Estados Unidos de monitoramento, por país, do tráfego de dados e mensagens 

Estado de Minas/ The Guardian

Londres/ Rancho Mirage (EUA) – Enquanto os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e o da China, Xi Jinping apertavam as mãos em um encontro informal na Califórnia, reconhecendo que precisam trabalhar juntos para lidar com questões de segurança cibernética – os EUA dizem que os hackers chineses acessaram segredos militares norte-americanos, uma acusação negada pela China –, o jornal inglês The Guardian divulgava nova denúncia de monitoramento de comunicações privadas pela administração de Obama: uma megaferramenta de vigilância desenvolvida pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), que não apenas conta, mas categoriza gravações de comunicação.

Chamado de Boundless Informant (na tradução livre informante ilimitado), o sistema detalha, por cada país do globo, o volume do tráfego de informações coletadas nas redes de comunicação via computador e telefonia. O mapa global tem cores também: ele vai do verde (menos risco de vigilância), passa pelo amarelo, laranja até chegar no vermelho (escala máxima da vigilância). Ao Congresso, membros da NSA negaram por diversas vezes terem condições de rastrear as comunicações dos americanos. A notícia veio depois de o programa de espionagem Prism – que vasculha ligações e trocas de informações em nove gigantes da Internet, como Microsoft, Yahoo!, Google, Facebook e Youtube. Com o Boundless Informant, a NSA coletou, em apenas um mês, cerca de 3 bilhões de dados de inteligência nos Estados Unidos.

Em março deste ano, mais de 97 bilhões de informações foram recolhidas em todo o mundo. A ferramenta mostra metadados, ou seja, dados sobre dados. Ela não permite que o usuário tenha acesso ao conteúdo monitorado, mas sim ao volume de informações coletada. Ao clicar em um país do mapa, o programa informa a quantidade de dados armazenados sobre ele e o tipo de informação rastreada. Irã, Paquistão, Jordânia, Egito e Índia foram os estados mais monitorados de acordo com os documentos.

Um dos documentos divulgados pelo The Guardian diz que o informante foi criado para dar à NSA resposta oficiais a questões como: “Que tipo de cobertura nós temos no país X?”; “Quantos sites nós temos nessa região?”; “Quantas gravações (ou de que tipo) estão coletadas contra determinado país?”. Em uma lâmina de apresentação sobre o programa, a NSA afirma que “a ferramenta autoriza seus usuários a selecionar um país no mapa e acessar o volume de informações de que precisa e selecionar detalhes colecionados contra aquele país”.

Ao The Guardian, a porta-voz da NSA, Judith Emmel, explicou que a tecnologia desenvolvida até o momento não permite a identificação do emissor ou do destinatário de um e-mail, por exemplo. “A NSA constantemente informa, inclusive o Congresso, que não tem a habilidade para determinar com certeza a localização ou identidade todos os envolvidos em uma troca de comunicação”, afirmou.

DIZ QUE ME DIZ Empresas de comunicação vigiadas pelo governo negaram ter conhecimento sobre o Prism e afirmam que só fornecem dados após ordem judicial. Uma reportagem do New York Times de ontem, porém, mostrou que as empresas fizeram acordos com o governo para modificar seus sistemas criando brechas para o monitoramento, de forma extra-oficial. Segundo a publicação, o Twitter não teria aceitado o acordo e foi monitorado dentro do sistema legal de vigilância. As empresas de comunicação são obrigadas a fornecer dados ao serviço de inteligência quando acionadas judicialmente, conforme prevê o Código de Vigilância e Inteligência Estrangeira.

A notícia sobre o avançado monitoramento norte-americano surpreendeu alguns países, que manifestaram preocupação com a violação de privacidade por parte da administração Obama. A Inglaterra, por outro lado, acompanha o desenvolvimento do Prism há pelo menos três anos, de acordo The Guardian. Ontem, a agência oficial responsável pelas escutas na Grã-Bretanha informou que entregará ao parlamento um relatório explicando seus vínculos com o programa de espionagem.

Assange critica os EUA

Referindo-se às denúncias de espionagem por parte do governo norte-americano, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, afirmou que os Estados Unidos vivem um “colapso catastrófico do direito”. “O governo americano tem gravações telefônicas de todo o mundo nos Estados Unidos e a NSA as tira diariamente das mãos das operadoras em virtude de acordos confidenciais. Isto é o que se entende”, disse o australiano, durante entrevista na embaixada do Equador em Londres concedida à agência France-Presse na sexta-feira e divulgada ontem.

Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.

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