Um Corpus Christi que se inicia com a tensão de Belo Monte e se desdobra na morte de Oziel Gabriel, Terena de 35 anos, em Sidrolândia, MS

Oziel Gabriel
Oziel Gabriel

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Enquanto em Belo Monte operários denunciam intimidações da polícia para forçá-los a iniciar um processo de agressões com os indígenas, de forma a justificar uma ação repressiva mais violenta por parte dos policiais e da Força Nacional, a Polícia Federal entra na “Fazenda Buriti” atirando com balas de verdade e mata o Terena Oziel Gabriel, de 35 anos, pai de dois filhos adolescentes. Nenhuma hipótese de bala de borracha: o tiro “atingiu a parte interior do abdômen, transpassou o fígado e saiu pelas costas”. Só não se sabe ainda o calibre exato, já que a bala não ficou no corpo.

Quando toda uma tensão se volta para o Pará, a morte acontece em Mato Grosso do Sul. Coincidência? Erro tático? Ou tentativa de criar um cenário alternativo, dividindo as atenções?

As notícias de Sidrolândia dizem que, em lugar de promover a “desocupação”, a violência que deixou um número incerto  de pessoas no hospital da cidade só fez acirrar os ânimos. Segundo o Campo Grande News, os caciques presentes na ocupação estariam conclamando os indígenas a acorrerem para a área, e cerca de 1,2 mil pessoas, de 12 diferentes aldeias, estariam já em torno do território indígena, afirmando que “resistirão até morrer”.

Às 14:46, recebi, no Blog, um comentário à primeira notícia publicada sobre a morte de Oziel (Índio terena morre em confronto com a polícia durante desocupação em Sidrolândia (MS)). Confesso que fiquei em dúvida quanto a postá-lo, na medida em que antes dele três comentários a essa e a outras duas notícias, escritos por uma mesma pessoa, eram francamente agressivos. Decidi que não tinha o direito de ocultá-lo, entretanto. Diz ele:

“venho por meio desta comunicar aos reportes e goveno do estado de mato grosso do sul que estaremo mobilizando um grande confronto levando em consederação o que fizeram com nosso parente indigena
a organização de povos indigena se reune hoje as as 1 hora para tratar do assunto da morte do terena na rentegração de posse de terra na fazenda buriti
em fim 30 onibus cheio de indio ira participar dessa guerra que o governo esta mobilizando ja comunicar que os terena de mato grosso estara tambem nessa participção”.

Nesse caso, teríamos os Terena dos dois estados se unindo no território reconhecidamente indígena, mas ainda em mãos de um político ruralista do PSDB com fama de violento, que garantia à imprensa local que iria retomar as “suas terras” ainda hoje: Ricardo Bacha. E, em Belém, o CCBM e a polícia procurando acirrar os ânimos numa reintegração pelo visto adiada para amanhã, já que legalmente agora não pode ocorrer até as 6 horas da manhã.

Enquanto isso, a maioria absoluta dos habitantes deste País escolhe entre participar da santa missa, ver a tevê Globo, enforcar o feriadão (para a minoria que pode, óbvio!) ou de alguma forma mais singela, molhada ou a seco, encerrar sua folga de Corpus Christi… 

O corpo de Oziel já se foi. A noite também chegou. Apesar do respeito à dor de sua família e de seus parentes, esperemos que, pelo menos por hoje, fiquemos assimQuem sabe durante a noite a consciência acorre a algumas cabeças coroadas de Brasília, e esse pesadelo tem um fim!

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