RS – Sementes transgênicas: a contaminação do troca-troca

Manifestação do Movimento Gaúcho em defesa do Meio Ambiente, referente ao programa do Governo Tarso Genro, Troca-Troca, que utiliza sementes de milho Transgênicas

O pedido da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG), com a conseqüente anuência do governo do Estado do Rio Grande do Sul, para a liberação de transgênicos no programa de troca-troca de sementes, é motivo de espanto para todos os que sabem das conseqüências danosas desta forma de “produção” do agronegócio.

Analisemos alguns fatos históricos que lhe guardam irônica similitude.

Quando lançado no ano de 1946, as propagandas do inseticida DDT mostravam filmes de crianças em diferentes situações (inclusive se alimentando), sendo pulverizadas com este veneno, numa mensagem subliminar e mentirosa de que não traria qualquer conseqüência danosa à saúde humana.

Nas décadas de 20 e 50, um comercial da indústria tabagista alardeava que “mais médicos fumam Camel do que qualquer outro cigarro” e o encenava um “doutor” fumando, com um maço do cigarro ao lado do seu estetoscópio. Reforçava a mensagem: “veja como os Camel combinam com a sua garganta“. Se estes são tempos idos, continuam até hoje exatamente os cânceres de garganta e outros, associando-os ao hábito do fumo.

Já, na guerra do Vietnam, tropas americanas pulverizaram milhões de litros do desfolhante “agente laranja” sobre as florestas vietnamitas, para que os soldados inimigos pudessem ser identificados e abatidos por entre as árvores. Como veneno, massacrou pessoas de ambos os exércitos, mas os mais vitimados foram os fetos, mortos no ventre materno aos milhares e, muitos dos que conseguiram nascer, trouxeram no corpo mal formações monstruosas e inimagináveis. Este mesmíssimo “agente laranja” está sendo aplicado no Brasil para o “controle de pragas” e, de forma inconsequente e irresponsável, foi liberado pela CTNBio para ser testado em lavouras planejadas.

O que todos estes e muitos outros casos têm em comum?

Todos têm em comum a identificação inequívoca e clara do interesse de lucro inconsequente e desmedido de grandes grupos comerciais, que não veem na saúde humana, animal ou ambiental um impedimento para alcançar seus avaros propósitos de acúmulo financeiro.

As sementes “transgênicas” já foram motivos de várias pesquisas em diferentes centros, que comprovaram não só a total ineficiência de muitas, como também a toxicidade de outras. São, de fato, sementes de doenças e de desregulações hormonais e orgânicas.

O milho, um exemplo já investigado, é motivo de indução de cânceres de rins e fígado, acarretando males que podem perdurar para toda a vida e, lembremos, sua polinização alcança centenas de metros, indo contaminar lavouras de outros que não desejam trabalhar com transgenia, materializando-se num absoluto desrespeito.

Esta transgenia incrementou o uso de agrotóxicos em mais de 70%, para um aumento de área plantada em 60% e, mesmo assim, não impede a ocorrência da denominada “lagarta do cartucho” e outras pragas em lavouras de milhos.

Na Índia, as plantações de algodão transgênico da Monsanto são conhecidas como “o cinturão do suicídio”.

A bem da verdade, o que se constata são agricultores perdendo autonomia de produzir suas próprias sementes, ficando subjugados pelo oligopólio crescente de transnacionais do setor, das quais cada vez mais e sempre precisam comprar sementes, algumas estéreis.

Associadas aos venenosos agrotóxicos, tais sementes somam o potencial de literal peçonha, destruindo lenta, gradativa e muitas vezes irrecuperavelmente a saúde de todos e de tudo.

Se prestarmos a atenção, os mais expostos são exatamente os pequenos agricultores, que fazem uso de uma literal tecnologia de guerra, venenos que os destroem orgânica e financeiramente.

Alardeadas para “acabar com a fome no mundo”, são, como dito, sementes de lucro e acúmulo. Corrobora esta afirmativa dados advindos da FAO (Food and Agriculture Organization, órgão da ONU), citando que no mundo existem 7 (sete) bilhões de pessoas e que produzimos alimentos para saciar 12 bilhões de pessoas.

Então, onde está o problema?

Um deles é que a distribuição de grãos, por exemplo, é feita com propósitos de lucro (mais uma vez) e não para áreas de necessidade, relegando pessoas (crianças, jovens e velhos) às regiões endêmicas de fome. Outro fato é que produzimos com o propósito de alimentar animais, que vão rechear lanches de uns ou servir para o fausto repasto de outros.

Se assim for, por que temos tal política agrícola, agrária e de governos, enfim?

Porque a prática corrente dos grandes conglomerados é a compra eleitoral de políticos. Quando candidatos comprometem-se com o agente financiador (empresas de bebidas, cigarros, construtoras, mineradoras, plantadoras de “florestas” ou, onde centra o presente texto — o agronegócio). Quando eleitos, gestam mirando tais compromissos, assim como para continuar recebendo os mesmos financiamentos para as suas campanhas tão falsas quanto milionárias.

É bom salientar que este debate não pode ser visto como um “empate” de opiniões, onde um diz uma coisa, o outro discorda e fica tudo por isto mesmo.

O atual “modismo de transgênicos e de venenos agrícolas” é uma bandeira do agronegócio, que atende interesses específicos e aqui já identificados, que compra e engana pessoas, não se diferenciando em nada das enganosas propagandas de “DDT`s”, cigarros ou “agentes laranjas”.

A história se repete.

Respeitosa e educadamente divergimos desta posição da FETAG e governo do Estado, pois entendemos que estas liberações não atendem o interesse do pequeno, médio ou sequer grande agricultor.

Perguntar-se-ia: em que se baseia a necessidade, quais as vantagens e o que justifica o propósito de empregar tais sementes e, ainda mais, neste programa em específico?

Isto precisa ser dito com clareza!

Como podemos permitir que famílias de agricultores e a sociedade em geral fiquem expostas a tais perigos? Onde está a nossa responsabilidade?

Esta decisão deve ser imediatamente revista e evitada de uma vez por todas.

Enviada por Fernando Campos Costa.

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