Famílias são assentadas após 9 anos de ocupação no Noroeste do Paraná

Os trabalhadores sem terra estavam acampados em Guairaça desde 2004, na fazenda Santa Filomena, declara improdutiva pelo Incra em 1998. 

Assentamento-Elias-Meura-300x197Terra de Direitos

Depois de nove anos acampadas na região Noroeste do Paraná, na fazenda Santa Filomena, em Guairaça, cerca de 60 famílias sem terra do pré-assentamento Elias Gonçalves de Meura conquistam definitivamente a terra. Os trabalhadores foram assentados no início de abril pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no município de Carlópolis, região Norte do estado.

O assentamento leva o nome de Elias Gonçalves de Meura, jovem militante assassinado por jagunços no dia da ocupação na Fazenda Santa Filomena, em Guairaça. Com 504 hectares, a nova terra das 60 famílias é uma antiga fazenda improdutiva, desapropriada pela União e destina à reforma agrária.

A criação do assentamento em Carlópolis é uma grande vitória e dá um desfecho à ocupação iniciada por famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST em 2004. Por outro lado, a denúncia feita pelo Movimento à época sobre a improdutividade da fazenda Santa Filomena ficou impune. A fazenda de 1.797 hectares havia sido declarada improdutiva pelo Incra em 1998, mas após 13 anos de disputas judiciais em que o proprietário buscava impedir a desapropriação, a Justiça decidiu pela reintegração de posse ao proprietário, obrigando a saída dos acampados.

No histórico da luta pela desapropriação da fazenda improdutiva, as decisões judiciais mostram a opção pelo direito à propriedade em detrimento do direito das famílias sem terra, pela garantir o direito à permanência no território. Para agravar o caso, em fevereiro de 2012 a Advocacia-Geral da União (AGU) cometeu um erro e deixou de recorrer de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) desfavorável ao Incra, impossibilitando a desapropriação da área.

O assassinato do camponês Elias Gonçalves de Meura também segue impune. Após seis meses de investigação, o Ministério Público do Estado decidiu pelo arquivamento do inquérito policial, sob alegação de falta de indícios suficientes, afirmando ainda que, mesmo havendo indícios, os autores da ação teriam praticado o homicídio em legítima defesa da propriedade. A posição demonstra que, por parte do próprio MP, prevalece a postura de que a violência é justificada quando se trata da defesa da propriedade privada.

O artigo escrito por assessores jurídicos da Terra de Direitos, intitulado ”Violência, Impunidade e Concentração de Terras: O assassinato de Elias de Meura e a luta pela reforma agrária no Noroeste do Paraná“, aponta a ação de milícias privadas no assassinato. Segundo a pesquisa, as provas dos autos indicam relação do grupo armado com a quadrilha chefiada pelo ex-coronel da Polícia Militar Waldir Copetti Neves, responsável por atuar ilegalmente contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em despejos violentos.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.