Por Marina Terra
Do Ópera Mundo
Há exatamente 40 dias, Nicolás Maduro anunciava à Venezuela em cadeia nacional, em lágrimas: “às 16h25 de hoje, 5 de março, faleceu o comandante presidente Hugo Chávez Frías”.
Semanas de luto se passaram enquanto o país se preparava para uma nova eleição. Neste domingo (14/04), após 10 dias de campanha eleitoral – a mais curta da história venezuelana — Maduro foi eleito presidente com 50,66% dos votos (7.505.338), contra 49,07% de Henrique Capriles (7.270.403). A participação foi de 78%.
Essa foi a primeira eleição presidencial sem Chávez desde que o presidente foi eleito pela primeira vez, em 1998. Chávez passou por quatro eleições, sendo que na última derrotou o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, também rival de Maduro no pleito deste domingo. Ele morreu após uma longa batalha contra um câncer na região pélvica.
Após votar, Maduro esperou o resultado no Quartel da Montanha, no bairro de 23 de Janeiro, em Caracas. É lá que o corpo de Chávez repousa desde 15 de março, após ser velado na Academia Militar. Nos dias de homenagens, centenas de milhares de pessoas esperaram por até 30 horas na fila para dar seu adeus ao presidente.
“Jamais me imaginaria aqui, mas estou aqui”, afirmou Maduro após votar em colégio do bairro de Catia. Durante a votação, o agora presidente eleito da Venezuela aparentava estar bastante emocionado. No momento de depositar seu voto na urna, levantou a mão para cima, como se dedicasse o gesto a Chávez.
A partir de segunda-feira (15/04), Maduro, segundo suas palavras, “terá a tarefa de dar continuidade ao processo revolucionário liderado por Chávez há 14 anos”. De acordo com ele, durante coletiva de imprensa em Catia, os principais desafios são acabar com a violência e fortalecer os investimentos econômicos para desenvolver a indústria venezuelana.
Maduro também pediu que “o ódio e a intolerância” acabem na Venezuela, em referência à oposição do país. “Aqui sempre houve diálogo. Inclusive após tirarem Chávez do poder em 2002. Mas não há pacto algum com a burguesia, mas sim com o trabalhador, com o camponês”, disse após votar, acompanhado da sua família e da de Chávez.
Dia de votação
Durante todo o dia, apoiadores de Maduro e Capriles percorreram as ruas de Caracas convocando a população a votar. Na Venezuela, o voto não é obrigatório. “Faltam quatro horas, povo venezuelano. Honremos nosso comandante!”, gritavam alguns “motorizados”, como são chamados os motoqueiros, em frente ao colégio onde Maduro votou. Longe dali, no bairro de Sábana Grande, um casal de estudantes perguntava a quem passava “Já votou? Lembre-se que é a hora da mudança!”, repetindo slogan da campanha de Capriles.
Na noite de sábado (13/04), os dois principais candidatos convocaram coletivas e chamaram a população a votar e pediram paz no processo eleitoral. A oposição questionou a transparência do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), sugerindo que houve episódios suspeitos em eleições passada.
As eleições foram acompanhadas por observadores internacionais da OEA (Organização dos Estados Americano), do Mercosul, por observadores independentes convidados pela oposição e pela missão observadora eleitoral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Maduro tem 51 anos, foi motorista de ônibus e participou desde o início do movimento de esquerda venezuelano. Em 2000, foi eleito deputado da Assembleia Nacional e, em 2006, assumiu o cargo de Ministro de Relações Exteriores do governo de Chávez, no qual se manteve até o final de 2012, quando foi designado vice-presidente do país. Em 8 de dezembro do ano passado, dia em que Chávez anunciou que retornaria a Cuba para uma nova cirurgia contra um câncer, o presidente afirmou que Maduro seria candidato a uma nova eleição caso ele não pudesse seguir na função.