Belo Monte: Impedida de acompanhar negociações, advogada de manifestantes é citada pela Justiça

Convocados para reunião com Norte Energia, lideranças dos agricultores e advogada de direitos humanos foram abordados por oficial de justiça com um mandado proibitório que prevê multa de R$ 50 mil

Após ocupação de um dos canteiros de obra de Belo Monte na madrugada desta quinta, 21, os construtores da usina convocaram manifestantes indígenas e agricultores para uma reunião de negociação em Altamira no final da tarde. No local da reunião, porém, lideranças dos agricultores e a advogada de direitos humanos, Maira Irigaray, foram abordados por um oficial de justiça com um mandado proibitório que repete a decisão da Justiça expedida contra o Xingu Vivo em 14 de março. No mandado, os citados ficam impedidos de se manifestar em áreas da empresa sob pena de multa de R$ 50 mil.

Pouco antes da citação, a advogada, que acompanhou os manifestantes durante toda a ação, também foi impedida pela Norte Energia de participar da reunião. “Cheguei junto com a imprensa local. Pediram para que os jornalistas e eu nos retirássemos. A imprensa saiu e eu fiquei a pedido dos indígenas. Em seguida, chegaram dois agentes da Força Nacional e disseram que eles só sairiam se eu saísse. E que se eu não me retirasse não haveria reunião. Na minha saída, fui abordada por um oficial de justiça com um mandado proibitório. Algumas lideranças de colonos também receberam o mesmo mandado”, relata Maira.

A citação dos agricultores no local em que participariam de reunião com uma das partes litigantes foi considerada uma armadilha pela advogada. “Primeiro, é um absurdo que a Justiça ‘requente’ uma liminar, que já criminalizou os movimentos sociais semanas atrás, para criminalizar representantes das vítimas de abuso e violações de direitos por parte dos construtores de Belo Monte. Pior, porém, é fazê-lo quando foram convocados para uma reunião de negociação”, afirma Maira.

A liminar foi expedida pela juíza substituta Caroline Slongo Assad, da 1ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Pará, no processo N°. 0001485-05.2013.814.0005. A ocupação do canteiro Pimental foi encerrada após a reunião. De acordo com os manifestantes, não foi definido nada, além de novas reuniões.

Detenção de ativista

Ainda durante a ocupação do canteiro de obras, o ativista mexicano Ivan Castro Torres, que estava fotografando a ação, foi abordado pela Polícia Federal e instado a deixar o canteiro, o que fez prontamente. Do lado de fora, ele foi colocado dentro de uma viatura e levado para local desconhecido. Questionado, o delegado da PF disse apenas que tinham levado Ivan “para um lugar seguro”. O ativista foi encontrado horas depois às margens da rodovia Transamazônica, sem alimentos, água e documentos, que tinham ficado no canteiro.

Trabalhadores

Com a ocupação do canteiro, os trabalhadores que ficam alojados na obra foram retirados do local e mandados para Altamira. Segundo os operários, ao chegar na cidade, o RH da empresa os enviou, escoltados, de volta para o canteiro alegando que tudo estava sob controle. Em sua chegada, os manifestantes pararam os ônibus na beira da estrada e pediram para que os operários descessem. Houve um momento de tensão entre manifestantes e trabalhadores, que acabaram se conversando. De acordo com um operário, houve a suspeita de que a manobra teve intenção de instigar um conflito entre trabalhadores e manifestantes para poder justificar o uso de força por parte da polícia. “Isso foi quase 3h da tarde; os trabalhadores estavam desde às 5h da manhã sem água ou comida, por conta da confusão”, disse ele.

Impedida de acompanhar negociações, advogada de manifestantes é citada pela Justiça

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