Batalhão de Choque da PM entra no antigo Museu do Índio no Rio

Batalhão de choque entrou na área do museu no final da manhã Reprodução/TVGlobo

Alba Valéria Mendonça e Isabela Marinho, Do G1 Rio

Policiais do Batalhão de Choque entraram no antigo Museu do Índio e os indígenas começaram a desocupar o prédio por volta das 11h45 desta sexta-feira (22). Os PMs utilizaram spray de pimenta, gás lacrimogênio e dispararam tiros de borracha por pelo menos duas vezes. Manifestantes revoltados bloquearam a Avenida Radial Oeste.

Uma integrante do grupo feminista Femen foi detida, nesta sexta-feira (22), por protestar com os seios de fora na manifestação contra a desocupação do antigo Museu do Índio, no Maracanã, na Zona Norte do Rio. A ativista foi detida na Avenida Radial Oeste. Indignada, ela gritava “assassinos”.

Por volta das 11h30, um grupo ateou fogo em uma oca, localizada no terreno do prédio. Bombeiros foram acionados para apagar as chamas. Ainda não há informações de feridos.

Algumas famílias de indígenas deixaram o local em vans do governo do estado. O grupo foi visitar as opções de moradia oferecidas pela Secretaria de Assistência Social.

Desde o início do cerco da PM ao imóvel, seis pessoas, sendo três estudantes, já foram detidas. O clima é tenso no local.

O advogado Arão da Providência, que diz ser irmão de um dos índios que vive no prédio, pulou o muro para falar com os indígenas. Ele foi repreendido por policiais militares do Batalhão de Choque, contido com uso de força e levado para o camburão. A manifestante Mônica Bello também foi detida após discutir com os PMs.

A polícia usou spray de pimenta e gás lacrimogênio para conter o tumulto. O prédio, que dará lugar ao Museu Olímpico, foi cercado durante a madrugada por mais de 50 PMs, com motos e carros. Um helicóptero da PM sobrevoa a área.

A negociação com os índios foi retomada por volta das 10h30. De acordo com o representante do movimento, Afonso Apurinã, dez pessoas saíram do local e aceitaram o acordo proposto pelo governo. No entanto, segundo o líder, 50 indígenas ainda resistem em deixar o imóvel.

Entenda o caso
A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.

Pelo projeto da Casa Civil, o Maracanã seria transferido para a iniciativa privada, que deveria construir um estacionamento, um centro comercial e áreas para saída do público. Para isso, alguns prédios ao redor do estádio deveriam ser demolidos, entre eles o casarão do antigo Museu do Índio, que funcionou no local de 1910 até 1978.

O edifício com área de cerca de 1600 m² está desativado há 34 anos. O grupo de indígenas que ocupa o prédio – e deu ao museu o nome de Aldeia Maracanã – está no local desde 2006.

Esse ano, no entanto, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse em favor do governo estadual. Os índios foram notificados em 15 de março.

Moradia provisória
A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos ofereceu ao grupo opções de moradia provisória até que o Centro de Referência Indígena seja construído, na Quinta da Boa Vista, também na Zona Norte. O secretário Zaqueu Teixeira deu prazo de um ano e meio para a construção do Centro de Referência Indígena.

Um dos abrigos provisórios é o Hotel Santanna, no Centro da cidade, onde indígenas teriam alimentação e um andar exclusivo, segundo o governo. Para os que não quiserem ficar local, outras três áreas foram sugeridas: um terreno em Jacarepaguá, próximo ao Hotel Curupati; o abrigo Cristo Redentor; e um espaço ao lado do barracão da Odebretch, na Rua Visconde de Niterói.

“Oferecemos tudo para que fosse resolvido: transporte, alimentação, hospedagem para que fosse resolvida e não tem mais o que ofertar. É a última proposta do governo. Se eles não cumprirem, a Justiça vai obrigá-los a sair. Minha parte, que é ofertar, já está feita. Aí é com a Justiça o tempo para retirá-los”, disse o secretário na quinta-feira (21).

O defensor público federal Daniel Macedo, que ontem negociou com o grupo essa proposta, disse que os indígenas estavam “resolutos em aceitá-las” e que o hotel oferecido pelo governo é utilizado por moradores de rua, que passam a noite no local e têm que deixá-lo às 9h da manhã do dia seguinte.

Macedo afirmou que alguns indígenas estão dispostos a lutar com a própria vida. “Se falecer um índio aqui, vai repercutir mal internacionalmente e internamente”, disse.

“A gente até agora não assinou nenhum documento, não há local definido pra nova Aldeia Maracanã. O prédio que cederam, não fomos ver, mas sabemos que não é adequado. Por isso vamos manter a resistência pacificamente neste local”, disse na quinta Afonso Apurinã, presidente da Associação dos Índios da Aldeia Maracanã.

Trânsito complicado
A Radial Oeste, uma das principais vias da Zona Norte do Rio, foi fechada por volta das 6h30 para a desocupação. Dez minutos depois, a via foi reaberta, mas o trânsito continuou muito complicado, principalmente no sentido Centro.

De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro, a melhor opção para os motoristas é a Avenida Visconde de Niterói.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/03/batalhao-de-choque-da-pm-entra-no-antigo-museu-do-indio-no-rio.html

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