Audiência pública da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul vai trazer a público informações sobre a onda de repressão desencadeada em Porto Alegre entre 1970 e 1973, com deslocamento de agentes de outras partes do País para a capital gaúcha. Também serão debatidas as ações da Operação Condor, sistema de colaboração entre os regimes ditatoriais do Cone Sul para prender perseguidos fora de seus países.
A reportagem é de Elder Ogliari e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17-03-2013.
Dados compilados pelo colegiado indicam que mais de 300 pessoas foram presas naquele período, dos quais 70 eram militantes de organizações de oposição ao regime militar, segundo o defensor público Carlos Frederico Barcellos Guazzelli, coordenador da comissão gaúcha.
Alguns daqueles presos e parentes de desaparecidos vão dar depoimentos durante o painel “Graves Violações de Direitos Humanos”. Foram convidadas 12 pessoas que já relataram ou vão relatar suas histórias à comissão. Entre elas estão Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Paulo de Tarso Carneiro, Raul Ellwanger eUbiratan de Souza, todos presos políticos, e Suzana Lisboa, cujo marido, Luiz Eurico Tejera Lisboa, desapareceu em 1972.
Militante do Partido Operário Comunista (POC), Ignez Maria Serpa Ramminger deve resumir o depoimento que já deu sobre o período em que esteve presa, entre 1970 e 1971, que levou a comissão a concluir que as mulheres foram vítimas de sessões específicas de tortura. “Ficou claro que existia uma tortura clara e brutal contra as mulheres na questão sexual”, afirma Guazzelli.
Condor
No painel da audiência pública sobre a Operação Condor, o presidente do conselho diretivo do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, vai sustentar que a aliança dos regimes do Cone Sul teve origem no Brasil.Krischke já levou à Comissão Nacional da Verdade essa informação, baseada em documentos e depoimentos obtidos pelo próprio movimento.
Um desses papéis é um informe reservado do Exército, de 19 de dezembro de 1970, que narra a prisão do ex-tenente-coronel brasileiro Jefferson Cardim de Alencar Osório, de um filho e de um sobrinho dele no porto de Buenos Aires, em operação de colaboração entre autoridades brasileiras e argentinas. Pai e filho foram enviados ao Brasil e o sobrinho, ao Uruguai. Osório se opunha ao regime militar.
A audiência da comissão gaúcha também terá um bloco específico de debate sobre a morte do ex-presidente João Goulart, ainda hoje motivo de controvérsias.
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