Lázara Batista dos Santos Sousa, do Assentamento Rio Claro, distante 50 quilômetros de Jataí, no sudoeste goiano, está matriculada na pós graduação em Segurança de Alimentos, ministrada pelo Senac, para ampliar o conhecimento na fabricação de derivados do mel, atividade que desenvolve no Grupo de Mulheres Assentadas Abelha de Ouro. “Assisto a algumas aulas pela internet, aqui mesmo do assentamento, e realizo os trabalhos acadêmicos à noite e na madrugada”, relata. O diploma deverá chegar em 2014, após o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), cujo tema ela já definiu: Nutrição com Segurança a partir do Mel.
Quem conversa com Lázara e a percebe tão articulada não imagina que a senhora falante, de 46 anos, pisou numa sala para ser alfabetizada somente aos dez anos. Logo veio o casamento, aos 16 anos, e a escola ficou como um sonho distante da vida no campo, em Chapadão do Céu, município goiano próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul. Somente quando a filha mais velha entrou no ensino fundamental é que Lázara, à época com 26 anos, voltou a estudar, e na mesma sala da filha e dos seus colegas de 11 anos. “Não me sentia constrangida porque os professores me incentivavam muito. Ou eu ficava na mesma sala das crianças ou não estudava. Não existia escola de nível fundamental para adultos na cidade”, relembra.
Ensino médio, a terra e a graduação
Os estudos prosseguiram e, em 1999, aos 32 anos, trabalhando como telefonista e lavando roupa para custear as despesas da casa, Lázara concluiu o ensino médio no Colégio Estadual Frutos da Terra. “Foi um tempo de batalhas diárias. Meu marido estava acampado em busca de um lote do Incra no Assentamento Pratinha, em Chapadão do Céu, e eu tinha os três filhos para criar. Então, fazia o trabalho que aparecia e me sentia mais feliz do que cansada porque lutava por um projeto de vida”, conta.
O lote para a família de Lázara saiu e eles decidiram se transferir em 2003, com a autorização do Incra, para outro Assentamento, o Rio Claro, em Jataí. Ela não imaginava, mas a mudança para o município, onde está um dos campi da Universidade Estadual de Goiás (UEG), a aproximaria de um projeto que estava adormecido: a graduação. “Um amigo da Prefeitura avisou que seria aberta a inscrição para o vestibular. Fiquei interessada e com medo ao mesmo tempo. A inscrição não era barata, eu estava há algum tempo sem estudar mas, mesmo assim, resolvi enfrentar a situação. Deu certo! Fui aprovada para o curso de Tecnologia de Alimentos, que conclui em 2011”, comemora.
Os anos na faculdade também não foram fáceis. O pior entrave, segundo Lázara, era o preconceito de alguns alunos, e até de alguns professores, por ela ser assentada. “Confundiam a presença de quem queria estudar com a imagem de alguém que invadia terras e que ganhava as coisas fáceis do Governo Federal”, lamenta. Aos poucos, Lázara disse que conquistou a confiança e conseguiu algo inédito, que foi envolver a UEG num Projeto de Extensão com o Grupo de Mulheres Assentadas Abelha de Ouro, que reunia agricultoras dos assentamentos Rio Claro e Santa Rita, ambos em Jataí. “Eu tinha feito um curso prático para produzir mel na Reserva Legal dos assentamentos e queria apoio dos pesquisadores para melhorar a produção, fabricar derivados do mel. A UEG aceitou minha proposta e ajudou nosso grupo a desenvolver barras de cereais de mel, trufas e doces”, relata.
Cosméticos
Atualmente, Lázara e suas colegas do grupo produzem mais do que alimentos com o mel extraído das 104 colmeias instaladas na Reserva Legal. Passaram a fabricar sabonete íntimo com barbatimão, aroeira, mel e própolis; cera depilatória; gel com microesferas esfoliantes e spray bucal, cuja base é o mel, o própolis, o extrato de romã, a malva, o gengibre e a essência de néctar.
Toda essa produção já encontrou mercado certo em feiras, como a Agro Centro-Oeste Familiar, promovida pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2012, com apoio do Incra, e a Tecnoshow, realizada ano passado em Rio Verde, município do sudoeste goiano, distante 241 quilômetros de Goiânia.
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http://www.incra.gov.br/index.php/noticias-sala-de-imprensa/noticias/12733-assentada-vence-analfabetismo-e-cursa-pos-graduacao-para-melhorar-producao-de-mel-em-jatai-go
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