Fé ribeirinha

Por Amores no Velho Chico

Um traço forte encontrado nas pequenas comunidades ribeirinhas são as manifestações de fé e religiosidade vividas em comum. Desde o esforço para levar a cruz para o alto da serra à procissão com a imagem da Nossa Senhora que irá morar, por um curto período, na casa de alguém para zelar por aquela família.

Não há coisa que me mais intrigue que a religiosidade das pessoas. A fé – um enxergar diferente – que ultrapassa o raciocínio, sem contradizê-lo. A magia que há na abnegação daquele que é verdadeiramente movido pelo que não vê. E a comunhão que este sentimento produz, principalmente nos mais jovens.

Em Santo Inácio, elas cantam em Latim. “Elas”, também as crianças. Homens e mulheres desfilam em coro pelas ruas levando a imagem da Santa que irá passar uns dias na casa de um morador que se dispuser a recebê-la. Há uma parceria firmada, silenciosa, passando de porta em porta, rezando para que a paz possa ser a graça maior.

É uma fé que ultrapassa os obstáculos da razão e remove o medo também. Feito os rapazes e crianças que, contra todas as leis da física – e as de Murphy – fincando a cruz da sua fé, no alto da serra, se mostram insensíveis ao perigo da altura e do vento forte. E no final, o grito de vitória: “Conseguimos!” Conseguiram superar as pedras. Ali impera a crença de que nada os machucaria. Estavam protegidos.
E sob o céu azul, as velas, as enormes pedras, entre os desafios e cânticos, pessoas humildes de alma e coração, depositam suas esperanças de força e abrigo, indiferente de qualquer intelectualidade que lhe peça razões.

O sagrado torna-se vultoso e enobrece. Por isto, compactuo com o pensamento de Mahatma Gandhi: “ Meu esforço nunca deve ser o de diminuir a fé do outro, mas torná-lo um melhor seguidor de sua própria fé.”

Enviada por Ruben Siqueira.

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