Assentamento Milton Santos: Mortes anunciadas

Editorial Correio da Cidadania

Há dez anos, o Incra assentou, nas terras de uma usina de açúcar, duzentas e cinquenta famílias (mil pessoas) de trabalhadores rurais.

Elas estabeleceram-se no local e ali construíram suas casas com dinheiro de um empréstimo fornecido pelo Incra.

Trabalham, produzem, comercializam sua produção e dela vivem com dignidade. O assentamento (chamado Milton Santos) tem uma escola primária, na qual estudam os filhos dos assentados. Tudo certo.

Pois bem, os “proprietários” da usina entraram em juízo com um pedido de reintegração de posse e, pasme-se, o juiz a concedeu e determinou o despejo dos assentados. Dez anos depois de que os mesmos foram assentados!

Não dá para crer. Mas é a verdade. Um poder judiciário classista não está preocupado com a justiça, mas apenas em satisfazer os interesses dos proprietários.

Os assentados estão, como é natural, revoltados e determinados a resistir ao despejo. Ou seja, estamos diante da possibilidade de um confronto armado. Em outras palavras, diante de mortes anunciadas.

É indispensável que a sociedade civil se mobilize para evitar essa injustiça inominável. Ninguém tem o direito de esquivar-se dessa obrigação, sob pena de ser cúmplice do que vier a acontecer.

Cada um de nós tem o dever moral de cobrar das autoridades uma providência que evite a mortandade.

Precisamos inundar o Tribunal de Justiça de São Paulo com telegramas de protesto, para ver se os desembargadores tomam alguma providência para evitar o massacre. Precisamos cobrar dos parlamentares nos quais votamos uma intervenção junto ao Executivo.

As pessoas que entendem do assunto e que vêm acompanhando, há muitos anos, a questão agrária, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, têm cansado de advertir que, se não se fizer a reforma agrária, terminaremos por ter, no Brasil, uma situação semelhante à da Colômbia.  Onde, por falta de uma reforma agrária, já morreram mais de trinta mil pessoas, entre guerrilheiros e militares.

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