PA – Mensagem do professor Jairo Saw Munduruku, da Aldeia Sai-Cinza, Alto Tapajós

Mensagem do educador Jairo Saw Munduruku, do clã Saw (saúva da noite), clã vermelho. Nome em Munduruku: Saw Exebu – “aquele que está sempre junto”. Compartilhada por Bebel Gobbi. 

“Somos Munduruku da região do Alto Tapajós, povo guerreiro e temido, certamente muito admirado por ter uma cultura diferente. Temos conhecimentos da natureza, sabemos de sua importância e utilidade para nosso modo de subsistência. Existe a biodiversidade, portanto, todo o nosso conhecimento está guardado ali. Por isso, nós não a destruímos  porque dela tiramos algo importante.

A natureza existe porque os nossos antepassados se submeteram a um sacrifício para que houvesse a natureza em pé e ter sempre a vida. Na verdade, as árvores contêm o nosso sangue, portanto nos dá vida. Por essa razão, as respeitamos, não destruímos.

Temos a imensa riqueza, possuímos não para fazer grande acúmulo e, sim, deixar guardado com segurança e em seu devido lugar. Dependemos realmente dessa natureza, é ela que nos ensina, é ela que nos mantém seguros. Ela nos dá saúde, nos dá vida, nela existe toda fonte de riqueza. A natureza, para nós, é um sistema de equilíbrio e, por isso, temos harmonia. Para nós, ela é sagrada. Ela tem suas normas, regras e suas leis. Por isso que temos boas relações com ela e a respeitamos.

Não somos contra o desenvolvimento e nem o progresso. Mas somos totalmente contra a destruição da nossa floresta, isso causa impacto no nosso ambiente. NÓS NÃO ACEITAMOS O DESENVOLVIMENTO E O PROGRESSO DESSE TIPO. Somos contra a destruição da nossa floresta, somos contra a violação dos nossos direitos, como: violência, assassinatos, genocídios, discriminação, terras não demarcadas e desrespeito.

O Governo pensa em construir grandes projetos em Terras Indígenas e faz grandes investimentos, quando nós, indígenas, reivindicamos os nossos direitos para melhoria da educação, saúde, segurança e etc. O Governo diz que não há recursos para garantir a nossa qualidade de vida, mas com essas construções quer nos destruir e acabar conosco e com a floresta. E pensa, assim, em acabar com a população indígena no Brasil. Será que é dessa maneira que o Governo pensa em progresso, em desenvolvimento? Acreditamos que isso não é desenvolvimento, nem progresso.

E se perdermos nossas terras, nossas culturas, o Governo vai garantir resolver os problemas do mundo? Vai acabar com as desigualdades sociais? E o desemprego, as doenças e a miséria? O Governo vai garantir dar salário a todas as pessoas desempregadas e, assim, acabar com a pobreza?

O que o mundo inteiro pensa da resistência dos povos indígenas no Brasil e no mundo? Somos povos que preservam a natureza; que vivem de acordo com suas tradições, deixadas como herança dos antepassados; que mantêm em perfeito equilíbrio o funcionamento do sistema planetário.

É triste lembrar de tantas violações aos direitos indígenas. As nossas lágrimas chegam a inundar algumas cidades, em algumas regiões, de tanto chorarmos. E, em outras regiões, aparecem secas, é porque nossos olhos não contêm mais lágrimas. É assim que são anunciadas as notícias na mídia, como notícias de catástrofes e são interpretadas como mudanças climáticas no planeta.

O que os países mais ricos do mundo pensam de nós? Como nos veem? Pensam em nos socorrer? Ou deixam que isso aconteça, que ninguém se mobilize e aconteça a extinção da floresta e dos povos indígenas?

Não estamos preocupados apenas por sermos Munduruku, essa mensagem é para todas as nações existentes no mundo.

A Amazônia tem floresta em pé. Sabemos que, sendo assim, ela nos dá vida, porque ela também é responsável pela vida no planeta. Nós, Munduruku, o que somos realmente? Somos assim tão insignificantes? Os governantes não se preocupam com o bem estar social dos indígenas?

Ainda pensam em nós como caçadores de cabeça, como viveram nossos antepassados. Não somos bárbaros, mas isso é a demonstração de nossa bravura. Mostra que conseguimos troféus com lutas, lutas que temos não por acaso. Isso mostra a nossa verdadeira identidade, que somos verdadeiros guerreiros, os guardiões da floresta.

Cadê a admiração da sociedade envolvente? Nos vê apenas como mercadorias para fazer negócios? Querem apenas nos explorar? Querem nos usar como fontes de pesquisas científicas, para extraírem os conhecimentos que temos guardados há milhares de anos? Não vemos assim nenhuma valorização da nossa cultura. Somos esquecidos, mas nós lembramos das outras nações”.

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