Incidência de câncer em Paracatu é altíssima, afirma médico especialista

Por Sergio U. Dani, de Heidelberg, Alemanha, em 16/11/2012

Domingos Boldrini Júnior, médico especialista em câncer do Hospital de Câncer de Barretos, afirmou ontem que o número de pacientes com câncer em Paracatu é muito alto para o tamanho da cidade. “A incidência da doença em Paracatu é altíssima”, afirmou Boldrini, durante um encontro na cidade.

Atualmente, 425 pacientes de Paracatu estão em tratamento no Hospital do Câncer em Barretos, cidade localizada a mais de 550 km de distância de Paracatu. “E esse número aumenta a cada dia”, alerta Boldrini.

O arsênio da mineração de ouro da mineradora canadense Kinross Gold Corporation é o agente carcinogênico ambiental mais potente que se conhece.

Paracatu tornou-se uma das cidades mais poluídas por arsênio do p laneta, graças às atividades da mineradora de ouro iniciadas em 1987, apoiadas pelos governos municipal, estadual e federal do Brasil, e pelo governo do Canadá, através da EDC-Export Development Canada.

Uma Ação Civil Pública (ACP) proposta pela Fundação Acangau defende que a mineração de ouro em Paracatu é economicamente inviável, ecologicamente insustentável e socialmente injusta. Esta ACP pediu a realização de um estudo epidemiológico clínico-laboratorial e a interrupção imediata do envenenamento crônico da população de Paracatu, mas está suspensa, por decisão judicial e com a anuência do Ministério Público, desde 2009.

“A injustiça e a violência que vêm sendo perpetradas sobre o povo de Paracatu e sobre o meio ambiente clama aos céus”, afirmou Frei Gilvander Moreira, em fevereiro de 2010. “É um pecado contra o Espírito Santo e um crime hediondo”, concluiu.

Com a tecnologia médica atualmente disponível, já é possível provar o envenenamento crônico por arsênio e sua relação causal com diversos tipos de câncer. A indenização paga para uma pessoa envenenada cronicamente por arsênio varia entre 1,5 milhão de dólares e 6 milhões de dólares, segundo estimativas da EPA-Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

Estudo financiado pela própria mineradora Kinross e publicado em uma revista especializada em 2011 mostrou que o arsênio liberado por suas atividades de mineração em Paracatu está bioaccessível. Como não existe dose segura para uma substância cancerígena como o arsênio, toda a população da cidade está exposta ao risco.

Estudos epidemiológicos realizados em condições semelhantes às de Paracatu em outras regiões do mundo indicam que cerca de 10% da população deve morrer de câncer por causa do arsênio liberado pela mineração de ouro na cidade, enquanto o restante da população poderá desenvolver outras doenças causadas pelo arsênio.

O prejuízo causado pela mineradora em Paracatu e o valor total das indenizações somente nos casos de câncer é estimado entre 127 bilhões de dólares e 510 bilhões de dólares. A conta do prejuízo total é maior, considerando-se a persistência e dispersão do veneno no ambiente.

Com as evidências de genocídio, espera-se que a ACP seja desengavetada e outras ações indenizatórias sejam propostas contra a mineradora Kinross e os governos do Brasil e do Canadá.

Os advogados de Paracatu e do mundo apenas começam a descobrir a verdadeira mina de ouro da cidade.

Fontes:

  • http://paracatu.net/vie w/4148-professor-da-usp-diz-que-incidencia-de-cancer-em-paracatu-esta-acima-da-media.
  • Ono FB, Guilherme LR, Penido ES, Carvalho GS, Hale B, Toujaguez R, Bundschuh J. 2011. Arsenic bioaccessibility in a gold mining area: a health risk assessment for children. Environ Geochem Health 34:457-65.


Dr.med. D.Sc. Sergio U. Dani
Heidelberg, Germany
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Enviada por Mayron Regis para Combate ao Racismo Ambiental.

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