Atentados físicos e políticos: o monólogo do latifúndio na Terra Indígena Marãiwatsédé, Mato Grosso

Gilberto Vieira dos Santos*

Um indígena Xavante de Marãiwatsédé voltava de Barra do Garças para aldeia depois de ter deixado outros Xavante para tratamento de saúde, no último dia 3 de novembro. Na cidade de Água Boa foi abordado por um não indígena que perguntou se ele era filho do cacique Damião, o que ele, com medo, negou. Mais adiante, depois da cidade de Ribeirão Cascalheira, foi perseguido por dois carros com pessoas que reconheceu serem de Posto da Mata, núcleo da invasão no território indígena Marãiwatsédé.

Segundo informações de lideranças da comunidade, os homens de Posto da Mata perseguiram o motorista Xavante ao longo da rodovia BR 158 em alta velocidade. Nas proximidades do Posto Malu, o motorista viu outros homens com mais três carros querendo parar e cercar o veículo. Ao tentar escapar da perseguição o motorista capotou o veículo, tendo perdido temporariamente os sentidos, sofrendo algumas escoriações. Felizmente, por ser uma região movimentada, caminhoneiros chegaram e o pior foi evitado.

Na somatória deste (fa)nordeste matogrossense: um indígena abalado pela violência, um veículo queimado pelos perseguidores, deixando a comunidade indígena sem transporte para atender seus futuros pacientes e mais uma manifestação do “poder de diálogo” que tem os invasores de Marãiwatsédé.

Enquanto isso, preparando os atentados políticos, fazendeiros se utilizando de suposta organização religiosa, articulam mais uma “apelação”, entre as tantas que já fizeram para postergar o que não podem mudar: a desintrusão.

Mulheres bloqueiam ruas em Brasília e apelam para a condição de mulher da presidente Dilma, e dizem ter as mesmas supostas provas, já tantas vezes desmascaradas, de que Marãiwatsédé não é Marãiwatsédé. Em todos estes tristes fatos reside a inegável verdade: os direitos dos povos indígenas não são considerados.

Portanto, não se ouvirá os invasores dizerem que foram enganados, que mesmo sabendo ser terra indígena pensavam e foram levados a pensar que nunca sairiam. Que os políticos, inclusive prefeitos da região e outros que ocupam cargos na Assembleia Legislativa, que ou incentivaram a invasão ou fazem de tudo para mantê-la, são essencialmente anti-indígenas, antes de serem pró-invasores. Que os interesses são outros, não defender “indefesos pequenos agricultores”, mas reafirmar que em Mato Grosso, terra do agronegócio, não deve haver lugar para povos indígenas. E para isso todos os recursos serão acionados, sejam financeiros, o lobby, a pistolagem e os falsos argumentos, sem uma ordem definida.

Não obstante, como o mundo não é feito apenas de más notícias, ao mesmo tempo em que o agronegócio reafirma seu monólogo, diversas organizações e pessoas sensíveis a vida se mobilizam em apoio aos povos indígenas. Por intermédio das mais diferentes formas de manifestação chama a atenção para a “verdade verdadeira”: os direitos dos povos indígenas são inalienáveis, indisponíveis, imprescritíveis. E para reafirmar esta verdade, unirão seu grito: Somos todos indígenas, somos todos Guarani, SOMOS TODOS MARÃIWATSÉDÉ!!!

*Coordenador do Cimi Regional Mato Grosso

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6598&action=read

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